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Contorno Corporal - Year2018 - Volume33 - (Suppl.1)

http://www.dx.doi.org/10.5935/2177-1235.2018RBCP0026

RESUMO

INTRODUÇÃO: O tabagismo é um dos principais fatores negativos para complicações no pós-operatório de cirurgia plástica e a triagem desses pacientes é de suma importância. A monoximetria é um método simples e eficaz para essa triagem.
OBJETIVO: Uso da monoximetria como triagem de pacientes tabagistas que foram submetidos à lipoabdominoplastia.
MÉTODOS: Estudo retrospectivo descritivo por meio de revisão de 185 prontuários de pacientes submetidos à lipoabdominoplastia, tendo o uso do monoxímetro nos tabagistas como critério de triagem para suspensão cirúrgico. Foram avaliados o perfil epidemiológico e as complicações.
RESULTADOS: Dentre os 185 pacientes submetidos à lipoabdominoplastia que se encaixavam nos critérios de inclusão, 12,4% (n = 23) relataram tabagismo e foram submetidos à monoximetria no pré-operatório, sendo 3 pacientes com índices de monóxido de carbono expiratório elevado (ppm >6) e que tiveram cirurgias suspensas. As complicações pós-operatórias encontradas (seroma, hematoma e deiscência) não foram no grupo de ex-tabagista.
CONCLUSÃO: A monoximetria no pré-operatório de lipoabdominoplastia auxiliou no status tabagístico e exclusão de pacientes potenciais a desenvolverem complicações pós-operatória decorrente ao cigarro.

Palavras-chave: Hábito de fumar; Abdominoplastia; Procedimentos cirúrgicos reconstrutivos; Duração da cirurgia; Anestesia.


INTRODUÇÃO

O tabagismo é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a principal causa de óbitos potencialmente evitáveis em todo o mundo. Complicações pulmonares pós-operatórias são 2 a 6 vezes mais frequentes em pacientes que fumam em relação a não fumantes1. Metade dos atuais usuários do tabaco virá a óbito em decorrência de problemas a ele relacionados: doença pulmonar obstrutiva crônica (85%), doenças cardiovasculares (45%), cerebrovasculares (25%) e câncer (30%), sendo que, destes, quase 100% de pulmão2.

A exposição crônica à fumaça do cigarro provoca alterações fisiológicas que podem modificar as respostas às intervenções e contribuir para o aumento da morbidade pós-operatória, aumentando, em consequência, o risco de desenvolvimento de complicações respiratórias, cardiovasculares e de cicatrização.

Historicamente, a cirurgia plástica estética é considerada um procedimento seguro3, mas há riscos inerentes, como em qualquer cirurgia4. Por isso, o cirurgião plástico deve avaliar o paciente considerando os mesmos padrões rigorosos adotados em outras cirurgias, incluindo avaliação pré-operatória detalhada, exame físico e exames laboratoriais, além da monitoração trans e pós-cirúrgica imediata com o objetivo de garantir a segurança do paciente.

Pluvy et al.5, em 2015, em revisão sistemática baseada em 60 estudos demonstram o alto risco de necrose cutânea em paciente tabagistas, principalmente em cirurgias de grande porte como: cervicofaciais, mastectomia e abdominoplastia, sendo que possuem um retardo para cicatrização das feridas e maior índice de infecção do sítio cirúrgico.

Sørensen et al.6, em 2010, constataram em seu estudo que a vitamina C e a contagem sanguínea de neutrófilos foi menor em fumantes. Esses achados sugerem que a contração da ferida e o metabolismo do colágeno são afetados por uma alteração induzida pelo fumo na produção de vitamina C e por uma mudança na resposta celular inflamatória. Após a cessação do tabagismo, houve aumento dos níveis de vitamina C, sendo necessárias quatro semanas de abstinência do cigarro para restaurar os níveis de vitamina C e de colágeno no organismo, melhorando a resposta celular inflamatória.


OBJETIVO

Esse trabalho tem como objetivo demonstrar a importância de um exame de triagem (monoximetria) em pacientes tabagistas submetidas à cirurgia plástica estética com intuito de diminuir as chances de eventos adversos no intra e pós-operatório.


MÉTODOS

Estudo retrospectivo descritivo por meio de revisão de 185 prontuários de pacientes submetidos à lipoabdominoplastia no período de janeiro a dezembro de 2012 no Hospital Santos Day. Foram analisados os seguintes dados: idade, sexo, procedência, dados clínicos pré-cirúrgicos (índice de massa corporal, comorbidades, tabagismo, uso de contraceptivos e exames laboratoriais), dados cirúrgicos, como tempo de internação, tempo de duração da cirurgia, anestesia, quantidade de volume infiltrado e lipoaspirado, volume da peça abdominal, volume do dreno (Figura 1) e queixas pós-operatórias, além de complicações e seguimento pós-operatório.


Figura 1. Dados da lipoabdominoplastia.



Os pacientes que relataram histórico de tabagismo foram submetidos ao teste com aparelho de monoximetria portátil da marca Micro Medical o qual mensura o nível de monóxido de carbono (CO) expirado e calcula a %COHb circulante no sangue.

A função do monoxímetro é calcular a porções por milhão (ppm) de CO na expiração. Considera-se não fumantes índices de 0 a 6 de CO por ppm, sendo indicativo em luz verde no aparelho. Valores acima de 7 ppm são considerados fumantes leves à fumantes pesados, sendo estes não incluídos no estudo por terem suas cirurgias suspensas.

Todos pacientes foram submetidos exclusivamente à lipoabdominoplastia à técnica de Saldanha, sob anestesia geral, em uso de antibioticoterapia profilática e medidas antitrombóticas.

RESULTADOS

No ano de 2012, foram submetidos à lipoabdominoplastia 259 pacientes. Foram analisados um total de 185 prontuários, pois excluíram-se aqueles que foram submetidos a cirurgias combinadas ou secundárias ou prontuários com dados incompletos. A idade mínima foi de 20 anos e máxima de 65, com média de 38,9 anos. Todos os pacientes foram do sexo feminino. O índice de massa corporal médio pré-operatório foi de 26,8. A maioria dos pacientes era procedente do estado de São Paulo. As principais comorbidades apresentadas foram hipertensão arterial sistêmica, hipotireoidismo e diabetes mellitus. Entretanto, todas as pacientes estavam com doença de base estável.

O tabagismo foi relatado em 12,4% (n=23) e todas foram orientadas a cessarem o uso do cigarro com 4 semanas de antecedência da cirurgia e devidamente orientadas a realizar o teste da monoximetria (Tabela 1).




Todas pacientes deste grupo foram submetidas ao método do monoxímetro portátil como forma de triagem no dia da internação hospitalar, sendo 6 pacientes que tiveram suas cirurgias reagendadas por apresentarem índices de CO expirado acima de 6 ppm sendo que elas estavam cientes, pois constava no contrato assinado e reconhecido firma por elas.

O tempo do procedimento cirúrgico durou em média 4 horas. As principais queixas no pós-operatório imediato foram dor abdominal de leve a moderada intensidade, náuseas/vômitos, lipotimia, sendo todas solucionadas após prescrição medicamentosa e medidas clínicas.

As complicações encontradas foram epiteliólise, seroma, hematoma e deiscência de ferida operatória presentes em 2,2% dos casos. Dentre as pacientes com histórico de tabagismo que foram aprovadas após monoximetria, não houve complicações (Figura 2), portanto, não houve significância estatística (p < 0,05), sugerindo que a suspensão do tabagismo no pré-operatório seja eficaz.


Figura 2. Complicações dos tabagistas.



DISCUSSÃO

Fumantes sofrem maior grau de hipoxemia pós-operatória em relação a não fumantes após anestesia e cirurgia similares. Há aumento na resistência das vias aéreas e maior capacidade de fechamento. Podem ter capacidades de fechamento durante a anestesia que se aproximam ou excedem a capacidade residual funcional, resultando em inadequação da relação ventilação/perfusão, aumento na diferença alvéolo-arterial de oxigênio e hipoxemia. Estas alterações da função pulmonar continuam no período pós-operatório e podem explicar o maior grau de hipoxemia observado em usuários de cigarros7.

Hedblab et al.8, em 2006, em um estudo de coorte de base populacional, com duração de 19 anos, descreveram as diferenças interindividuais da concentração de COHb em indivíduos não fumantes e estimaram o risco de doenças cardiovasculares associadas. Os resultados mostraram que as concentrações de COHb variaram de 0,13 a 5,47 e que os indivíduos que apresentaram níveis elevados de COHb acima de 0,67% tiveram incidência significativamente maior de eventos cardíacos e morte, em comparação com aqueles indivíduos cujas concentrações de COHb estavam abaixo de 0,50%.

Na intoxicação crônica as alterações clínicas variam a depender do tempo de exposição, da concentração do poluente e da susceptibilidade individual. As alterações cardiovasculares são caracterizadas por níveis elevados de lipídios no plasma, fato este que facilita a adesão e agregação das plaquetas, iniciando, assim, o processo aterosclerótico, e aumentando a possibilidade de desenvolvimento de hipertensão e trombose9.

Tem sido constantemente demonstrado, em estudos controlados, que uma redução nos níveis de COHb em indivíduos expostos ao CO, reduziria a ocorrência de episódios isquêmicos e consequentemente o risco para o infarto do miocárdio9.


CONCLUSÃO

Em nosso estudo não houve diferença da incidência das complicações no pós-operatório dos pacientes tabagistas e não tabagistas, demostrando, assim, a importância de realizar a monoximetria em todos os pacientes tabagistas no pré-operatório das lipoabdominoplastias. Por ser um estudo descritivo, há a necessidade de novos estudos sobre o tema para elucidar melhor a relação na aplicação da monoximetria em tabagistas e prevenção de complicação pós-operatória.


REFERÊNCIAS

1. Beckers S, Camu F. The anesthetic risk of tobacco smoking. Acta Anaesthesiol Belg. 1991;42(1):45-56. PMID: 2058359

2. Cruz MS, Gonçalves MJF. O papel do enfermeiro no Programa Nacional de Controle do Tabagismo. Rev Bras Cancerol. 2010;56(1):35-42.

3. Byrd HS, Barton FE, Orenstein HH, Rohrich RJ, Burns AJ, Hobar PC, et al. Safety and efficacy in an accredited outpatient plastic surgery facility: a review of 5316 consecutive cases. Plast Reconstr Surg. 2003;112(2):636-41. DOI: http://dx.doi.org/10.1097/01.PRS.0000070976.80666.50

4. Iverson RE; ASPS Task Force on Patient Safety in Office-Based Surgery Facilities. Patient safety in office-based surgery facilities: I. Procedures in the office-based surgery setting. Plast Reconstr Surg. 2002;110(5):1337-42.

5. Pluvy I, Panouillères M, Garrido I, Pauchot J, Saboye J, Chavoin JP, et al. Smoking and plastic surgery, part II. Clinical implications: a systematic review with meta-analysis. Ann Chir Plast Esthet. 2015;60(1):e15-49. DOI: 10.1016/j.anplas.2014.09.011 DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.anplas.2014.09.011

6. Sørensen LT, Toft BG, Rygaard J, Ladelund S, Paddon M, James T, et al. Effect of smoking, smoking cessation, and nicotine patch on wound dimension, vitamin C, and systemic markers of collagen metabolism. Surgery. 2010;148(5):982-90. PMID: 20347467 DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.surg.2010.02.005

7. Lyons B, Frizelle H, Kirby F, Casey W. The effect of passive smoking on the incidence of airway complications in children undergoing general anaesthesia. Anaesthesia. 1996;51(4):324-6. PMID: 8686817 DOI: http://dx.doi.org/10.1111/j.1365-2044.1996.tb07740.x

8. Hedblad B, Engström G, Janzon E, Berglund G, Janzon L. COHb% as a marker of cardiovascular risk in never smokers: results from a population-based cohort study. Scand J Public Health. 2006;34(6):609-15. DOI: http://dx.doi.org/10.1080/14034940600590523

9. Graber JM, Smith AE. Results from a state-based surveillance system for carbon monoxide poisoning. Public Health Rep. 2007;122(2):145-54. PMID: 17357356 DOI: http://dx.doi.org/10.1177/003335490712200203










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