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Contorno Corporal - Year2018 - Volume33 - (Suppl.1)

http://www.dx.doi.org/10.5935/2177-1235.2018RBCP0032

RESUMO

A cirurgia de lipoaspiração é um dos procedimentos estéticos mais realizados em todo o mundo com maior frequência em mulheres. A lipoaspiração, além da sua função de modelar áreas específicas do corpo e melhorar os contornos do corpo, remove o excesso de depósitos de gordura locais. Esta retirada de excesso de gordura pode alterar o perfil metabólico pela perda imediata de tecido adiposo. Este estudo tem por objetivo avaliar o perfil lipídico das pacientes submetidas à lipoaspiração entre de 2015 a 2017 no Serviço de Residência de Cirurgia Plástica "Dr. Ewaldo Bolivar de Souza Pinto" do Santos Day Hospital em parceria com a Clínica Corpo e Arte Guarujá e seu laboratório de análise. Foi realizado uma análise retrospectiva de 35 prontuário pacientes do sexo feminino submetidas a cirurgia de lipoaspiração não combinada do período de 2015 a 2017. Os resultados deste estudo apontaram que a primeira amostra do perfil lipídico das pacientes foi semelhante aos exames pré-operatórios, porém houve uma redução dos valores de LDL-LDL, TG, HDL-colesterol na terceira amostra. Pode-se concluir que apesar de ser um estudo descritivo, o presente trabalho avaliou que há uma resposta endocrinometabólica e imunológica ao trauma, correspondendo a diminuição dos níveis lipídicos no pós-operatório imediato em cirurgias de lipoaspiração não combinadas. Porém, não permite associar a lipoaspiração e a diminuição do perfil lipídico, necessitando de estudos mais elaborados sobre o assunto.

Palavras-chave: Lipoproteínas; Ácidos graxos; Lipectomia; Triglicerídeos; HDL-colesterol.


INTRODUÇÃO

A cirurgia de lipoaspiração é um dos procedimentos estéticos mais realizados em todo o mundo com maior frequência em mulheres. A lipoaspiração, além da sua função de modelar áreas específicas do corpo e melhorar os contornos do corpo, remove o excesso de depósitos de gordura locais. O avanço da técnica de lipoaspiração possibilitou a aspiração de grandes áreas1.

O tecido adiposo é um órgão metabolicamente ativo, e alguns autores sugeriram que a remoção cirúrgica do tecido adiposo subcutâneo (TAS) pode alterar o perfil metabólico pela perda imediata de tecido adiposo, podendo ser utilizada no tratamento da obesidade e suas comorbidades2. Além disso, estudos experimentais observam ganho de gordura compensatório no tecido adiposo intacto em resposta à lipectomia3.

A agressão cirúrgica desencadeia uma reação neuroendócrina e metabólica semelhante à encontrada em qualquer situação de estresse ou trauma a que o organismo seja submetido, com elevação dos níveis plasmáticos dos hormônios catabólicos (cortisol) e liberação de hormônios pelo hipotálamo, os quais estimulam a libertação pela hipófise do hormônio antidiurético (ADH). Como resultado das alterações hormonais durante a cirurgia, as gorduras armazenadas como triglicerídeos são convertidos por lipólise em glicerol e ácidos graxos4.

Os lípides biologicamente mais relevantes são os fosfolípides, o colesterol, os triglicérides (TG) e os ácidos graxos (AG). Os fosfolípides formam a estrutura básica das membranas celulares, também é precursor dos hormônios asteroidais e da vitamina D. Os TGs constituem uma das formas de armazenamento energético mais importantes no organismo, depositados nos tecidos adiposo e muscular. As lipoproteínas permitem a solubilização e o transporte dos lípides, que são substâncias geralmente hidrofóbicas, no meio aquoso plasmático.

Existem quatro principais classes de lipoproteínas: as ricas em TG, maiores e menos densas, representadas pelos quilomícrons, de origem intestinal; as lipoproteínas, very low density lipoprotein (VLDL), de origem hepática; as ricas em colesterol, incluindo as de densidade baixa ou low density lipoprotein (LDL) e as de densidade alta ou high density lipoprotein (HDL). O transporte de lípides de origem hepática ocorre por meio das VLDL e LDL. As VLDL são montadas e secretadas pelo fígado e liberadas na circulação periférica. As LDLs são capturadas por células hepáticas ou periféricas.

Com a queda do conteúdo intracelular do colesterol, ocorre aumento da expressão de LDL nos hepatócitos, e, assim, maior captura de LDL e VLDL circulantes por essas células4.

As partículas de HDL são formadas no fígado, no intestino e na circulação. O HDL transporta o colesterol até o fígado, onde este é captado. O HDL também contribui para a proteção do leito vascular, a remoção de lípides oxidados da LDL e a estimulação da liberação de oxido nítrico. Os valores de referência se encontram na Tabela 1.




Além da resposta endócrina metabólica ao trauma, ainda ocorre a lipólise decorrente das cirurgias de lipoaspiração. Samdal et al.5 foram os primeiros a avaliar a resposta dos lipídios séricos após a lipoaspiração. Em um estudo envolvendo nove pacientes obesas, foi observado um aumento significativo do HDL, após um ano de pós-operatório. Vanderweyer6 realizou medidas do lipidograma durante e imediatamente após a lipoaspiração em dez pacientes, demonstrando que este procedimento é metabolicamente seguro.

Por outro lado, alguns trabalhos demonstraram não haver correlação entre a retirada cirúrgica de gordura e a melhora do perfil lipídico, advogando a necessidade da manutenção de um balanço energético negativo para a obtenção destes benefícios. O presente estudo tem por objetivo avaliar as alterações laboratoriais no perfil lipídico no pré-operatório e pós-operatório imediato em pacientes submetidas a cirurgia de lipoaspiração estética7.


OBJETIVO

Este estudo tem por objetivo avaliar o perfil lipídico das pacientes submetidas à lipoaspiração entre 2015 a 2017.


MÉTODOS

Trata-se de estudo retrospectivo descritivo, e de abordagem qualitativa e quantitativa por meio de análise do perfil lipídico de uma amostra de 35 pacientes submetidas à cirurgia de lipoaspiração no período de 2015 a 2017, no Serviço de Residência de Cirurgia Plástica "Dr. Ewaldo Bolivar de Souza Pinto" do Santos Day Hospital localizado na cidade de Santos, SP, em parceria com a Clínica Corpo e Arte Guarujá e seu laboratório de análise que presta atendimento às diferentes especialidades na área da saúde e que tem por finalidade a prestação de assistência, o ensino e a pesquisa.

Critérios de exclusão foram: paciente com dados incompletos ou não encontrados; que realizaram cirurgias combinadas; pacientes pós-bariátricas, ingestão de álcool até 72 horas antes da cirurgia. Todas as pacientes candidatas a cirurgia de lipoaspiração deveriam estar com todos os exames pré-operatórios com os valores normais.

No dia da cirurgia foram colhidos também exames para o perfil laboratorial, incluindo o perfil lipídico. Este perfil laboratorial foi realizado em 3 amostras de sangue, da seguinte forma: A primeira amostra coletada na indução anestésica; a segunda amostra no final da cirurgia; a terceira amostra no 1ª dia pós-operatório, antes da alta da paciente.


RESULTADOS

No período de 2015 a 2017, 35 pacientes do sexo feminino foram submetidos a cirurgia de lipoaspiração não combinada. Em análise dos prontuários evidenciou-se que a primeira amostra do perfil lipídico das pacientes foi semelhante aos exames pré-operatórios.

A média do nível de colesterol no pré-operatório foi de 199 mg/dL (min 134 e máx 233) de triglicerídeos foi de 119 mg/dL (min 58 e máx 255) e HDL de 52mg/dL (min 40 e máx 62). Os níveis de proteínas totais e albumina se encontravam nos limites da normalidade no pré-operatório, com médias de 6,8 mg/dL e 4,3 mg/dL, respectivamente.

Na segunda amostra, colhida no pós-operatório imediato, houve aumento dos níveis de triglicerídeos 135 (113%) e de HDL 64 (123%), com queda na terceira amostra, colhida no dia posterior, respectivamente 92 (23%) e 49 (6%) do valor do pré-operatório. Os níveis de colesterol total apresentaram queda nas 2ª e 3ª amostras, 174 (13%) e 151 (24%). As proteínas totais e a fração albumina também apresentaram queda nas 2ª e 3ª amostras. A Figura 1 ilustra os valores do perfil lipídico.


Figura 1. Perfil Lipídico.



DISCUSSÃO

A avaliação das alterações lipídicas está relacionada ao conhecimento da função endócrina do tecido adiposo, e suas implicações clínicas, em especial em pacientes obesos e com grandes volumes aspirados.

A gordura corporal se apresenta como um agente do estado inflamatório crônico, porém houve redução significativa após a lipoaspiração, corroborando com a maioria dos estudos sobre o assunto.

No estudo de Mohammed et al.8 a lipoaspiração não alterou o colesterol LDL-LDL, TG, HDL-colesterol. Os autores afirmam que os resultados não podem excluir a possibilidade de que, ao remover grandes quantidades de gordura corporal, haverá melhorias no resultado metabólica. Mas Ybarra et al.9 afirmam que a lipoaspiração abdominal em pacientes com peso normal saudável ou ligeiramente acima do peso melhora os principais componentes de lipoproteínas de dislipidemia associada à obesidade.

Por outro lado, Benatti et al.1, em um estudo randomizado, mostraram haver o aumento da gordura visceral após a lipoaspiração, sem alteração no tamanho dos adipócitos ou da expressão de genes associados ao metabolismo de lipídios.


CONCLUSÃO

Apesar de ser um estudo descritivo, o presente trabalho avaliou que há uma resposta endocrinometabólica e imunológica ao trauma, correspondendo à diminuição dos níveis lipídicos no pós-operatório imediato em cirurgias de lipoaspiração não combinadas. Porém, não permite associar a lipoaspiração e a diminuição do perfil lipídico, necessitando-se de estudos mais elaborados sobre o assunto.


REFERÊNCIAS

1. Benatti FB, Lira FS, Oyama LM, do Nascimento CM, Lancha AH Jr. Strategies for reducing body fat mass: effects of liposuction and exercise on cardiovascular risk factors and adiposity. Diabetes Metab Syndr Obes. 2011;4:141-54. DOI: http://dx.doi.org/10.2147/DMSO.S12143

2. D'Andrea F, Grella R, Rizzo MR, Grella E, Grella R, Nicoletti G, et al. Changing the metabolic profile by large-volume liposuction: a clinical study conducted with 123 obese women. Aesthetic Plast Surg. 2005;29(6):472-8. DOI: http://dx.doi.org/10.1007/s00266-005-0089-x

3. Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Programa de Auto-avaliação em cirurgia: Pré e pós operatório. São Paulo: Diagraphic; 2001.

4. Xavier HT, Izar MC, Faria Neto JR, Assad MH, Rocha VZ, Sposito AC, et al. Sociedade Brasileira de Cardiologia. V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevalência da Aterosclerose. Arq Bras Cardiol. 2013;101(4Supl.1):1-22. DOI: http://dx.doi.org/10.5935/abc.2013S010

5. Samdal F, Birkeland KI, Ose L, Amland PF. Effect of large-volume liposuction on sex hormones and glucose- and lipid metabolism in females. Aesthetic Plast Surg. 1995;19(2):131-5. PMID: 7598023 DOI: http://dx.doi.org/10.1007/BF00450248

6. Vandeweyer E. Does liposuction influence lipidogram in females: in vivo study. Aesthetic Plast Surg. 2002;26(1):17-9. PMID: 11891591 DOI: http://dx.doi.org/10.1007/s0026601-0034-6

7. Pintarelli G, Gomes RS, Rocha JD. Lipoaspiração: atualização dos fatores de riscos metabólicos e sua importância clínico-cirúrgica. Rev Bras Cir Plást. 2014;29(3):456-66.

8. Mohammed BS, Cohen S, Reeds D, Young VL, Klein S. Long-term effects of large-volume liposuction on metabolic risk factors for coronary heart disease. Obesity (Silver Spring). 2008;16(12):2648-51. DOI: http://dx.doi.org/10.1038/oby.2008.418

9. Ybarra J, Blanco-Vaca F, Fernández S, Castellví A, Bonet R, Palomer X, et al. The effects of liposuction removal of subcutaneous abdominal fat on lipid metabolism are independent of insulin sensitivity in normal-overweight individuals. Obes Surg. 2008;18(4):408-14. DOI: http://dx.doi.org/10.1007/s11695-007-9261-5










Santos Day Hospital, Santos, SP, Brasil

Endereço Autor:
Carlos Henrique dos Reis Conte
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Santos - SP, Brasil - CEP 11060-000
E-mail: chrc.med@gmail.com

 

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