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35ª Jornada Sul Brasileira de Cirurgia Plástica - Year2019 - Volume34 - (Suppl.1)

http://www.dx.doi.org/10.5935/2177-1235.2019RBCP0052

ABSTRACT

The objective of this study was to delineate epidemiological aspects related to patients treated in the burn sector of the Evangelical Mackenzie University Hospital, admitted in 2017.
Method: Data was obtained from the registry of patients entering the burn sector with 4.398 patients. Patients were analyzed by gender, age, causes of the burns and months of greater occurrence.
Results: A prevalence of care was observed in female patients. Of all visits, 2.361 (53.8%) were female and 2.031 (46.2%) were male patients that entered the service. A total of 391 (8.89%) hospitalizations were necessary among children and adults. Regarding the etiological factors, it was possible to observe a greater number of burns caused by scalds.
Conclusions: The study showed a correspondence of the profile of burns when compared to other services, emphasizing the importance of greater population education for the prevention of burns, mainly in order to combat negligence with children.

Keywords: Burns; Epidemiology; Burn units; Statistics; Accident prevention

RESUMO

O objetivo desse estudo foi delinear aspectos epidemiológicos relativos aos pacientes atendidos no setor de queimados do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie, admitidos em 2017.

Método: Foram avaliados dados obtidos do registro de entrada de pacientes no setor de queimados, perfazendo um total de 4.398 pacientes. Os pacientes foram analisados quanto ao sexo, idade, causas de queimadura e meses de maior ocorrência.

Resultados: Foi observada uma prevalência de atendimento em pacientes do sexo feminino. Deram entrada no serviço 2.361 (53,8%) pacientes do sexo feminino e 2.031 (46,2%) do sexo masculino. Foram realizados 391 (8,89%) internamentos contemplando crianças e adultos. No que diz respeito aos fatores etiológicos, foi possível observar maior número de queimaduras por escaldaduras.

Conclusões: O estudo demonstrou correspondência do perfil das queimaduras em relação a alguns serviços, ressaltando-se a importância de maior educação populacional para prevenção de queimaduras, principalmente visando combater a negligência infantil.

Palavras-chave: Queimaduras; Epidemiologia; Unidades de queimados; Estatística; Prevenção de acidentes


INTRODUÇÃO

Queimaduras são lesões de grande morbidade e mortalidade que geram considerável ônus para o país. Observa-se grande incidência de queimaduras, fomentando pesquisas para entender suas causas, distribuição e maneiras de combater esse agravo à saúde pública.

No Brasil, as queimaduras representam um agravo significativo à saúde pública. Algumas pesquisas apontam que, entre os casos de queimaduras notificados no país, a maior parte ocorre nas residências das vítimas e quase a metade das ocorrências envolve a participação de crianças. Entre as queimaduras mais comuns, tendo as crianças como vítimas, estão as decorrentes de escaldaduras (manipulação de líquidos quentes, como água fervente, pela curiosidade característica da idade) e as que ocorrem em casos de violência doméstica. Por sua vez, entre os adultos do sexo masculino, as queimaduras mais frequentes ocorrem em situações de trabalho. Idosos também compreendem um grupo de risco, principalmente por limitações relacionadas à idade1.

As queimaduras são acidentes relativamente comuns que requerem tratamento hospitalar específico multiprofissional dependendo da gravidade da lesão. As repercussões para a vítima variam de uma lesão superficial ao óbito, dependendo da gravidade e extensão, profundidade e localização das lesões, com a possibilidade de tempo prolongado de internação, de tratamento doloroso e de alto custo com sequelas físicas, psíquicas e sociais com resultados funcionais e estéticos, que nem sempre são satisfatórios.

Segundo a Sociedade Brasileira de Queimaduras, no Brasil acontecem um milhão de casos de queimaduras a cada ano; 200 mil são atendidos em serviços de emergência, e 40 mil demandam hospitalização2. As causas mais frequentes das queimaduras são a chama de fogo, o contato com água fervente ou outros líquidos quentes e o contato com objetos aquecidos. Menos comuns são as queimaduras provocadas pela corrente elétrica, transformada em calor ao contato com o corpo3. Esse tipo de evento constitui, nas diferentes idades, a terceira causa de óbito por trauma e a segunda em menores de quatro anos, tendo na maioria dos casos uma ocorrência acidental4.

A queimadura é uma ferida traumática causada, principalmente, por agentes térmicos, químicos, elétricos ou radioativos. Acontece nos tecidos de revestimento do corpo humano, podendo destruir parcial ou totalmente a pele e seus anexos, e também as camadas mais profundas como tecido celular subcutâneo, músculos, tendões e ossos5.

Diante de tais informações expostas, fica clara a importância de se comprometer com publicações que tracem perfis epidemiológicos, de modo a melhor entender fatores causais, distribuição e maneira de se evitarem tais acidentes. É de extrema importância, em todas as áreas de atuação médica, o conhecimento da epidemiologia, que fornece subsídios de avaliação e de organização de programas de tratamento e campanhas de prevenção.

OBJETIVO

Este estudo teve como objetivo avaliar o perfil epidemiológico dos pacientes atendidos no Hospital Universitário Evangélico Mackenzie de janeiro a dezembro de 2017, estratificando os pacientes quanto a sexo, idade, etiologia e pacientes internados.

Estudar o perfil do paciente atendido nas unidades de queimaduras é tentar entender os principais mecanismos e partir disso criar medidas para reduzir o número de queimaduras que ocorrem. Os acidentes por esse tipo de lesão merecem abordagem preventiva.

MÉTODO

Trata-se de um estudo epidemiológico observacional transversal, de caráter descritivo quantitativo, retrospectivo, realizado por meio do acesso ao livro de registro de entrada de atendimentos aos pacientes do Serviço de Queimados do Hospital Universitário Evangélico Mackenzie de Curitiba. Foram incluídos pacientes atendidos entres os meses de janeiro a dezembro de 2017.

As informações foram analisadas por meio de tabelas e conclusões foram obtidas quanto ao sexo (masculino e feminino), meses de maior incidência e causas das queimaduras (escaldaduras, líquidos inflamáveis, superfícies aquecidas, produtos químicos, choque elétrico e outros). As faixas etárias foram divididas em lactentes (0-2 anos), pré-escolares (3-4 anos), escolares (5-10 anos), adolescentes (11-19), adultos jovens (20-39 anos), adultos (40-60 anos) e idosos (idade maior que 60) e caracterizadas individualmente.

Dados referentes à profundidade e extensão de queimaduras foram supressos dada a inexatidão de suas descrições em tais registros.

RESULTADOS

durante os 12 meses de atendimento, revelaram 4.398 atendimentos de pacientes vítimas de queimaduras. Foi verificado um predomínio de pacientes do sexo feminino com um total de 2.346 pacientes compatível com 53,8% dos atendimentos. Já os atendimentos para o sexo masculino foram 2.022 pacientes, que representam 46,2% dos atendimentos no serviço (Tabela 1).

Tabela 1 - Características dos pacientes atendidos (n = 4.398), quanto ao sexo.
  n %
Feminino 2.346 53,8%
Masculino 2.022 46,2%
Total 4.398 100%
Tabela 1 - Características dos pacientes atendidos (n = 4.398), quanto ao sexo.

Com relação às faixas etárias, os indivíduos mais acometidos, que representam 40,3% do total, foram adultos jovens com idade entre 20 e 39 anos, correspondendo a 1.775 pacientes. Esses são seguidos de adultos com idade entre 40 a 60 anos, com 1.032 pacientes representando 23,40%. Adultos em idade laboralmente produtiva correspondem ao pico de incidência da amostra estudada.

Durante a infância e adolescência foi possível observar uma prevalência nas crianças menores de 2 anos. Foram 441 atendimentos a lactentes menores que 2 anos, que representam 10% da população atendida. Na idade de 2 a 4 anos foram realizados 118 atendimentos, correspondente a 2,68%. Na idade de 5 a 10 anos foram realizados 247 atendimentos que representam 5,61%. Os adolescentes de 11 a 15 anos representam 438 atendimentos, compatível com 9,95% dos atendimentos, porcentagem muito próxima dos menores de 2 anos. Esses dados estão representados no Gráfico 1.

Gráfico 1 - Características dos pacientes atendidos quanto a idade.

Dentre todos os 12 meses, observou-se um aumento dos atendimentos nos meses de janeiro, fevereiro e dezembro com número de atendimentos de 464, 413, 410 respectivamente. O aumento no número de atendimentos nesses meses é compatível com época de festas e recesso dos pacientes, em que aumentam substancialmente as queimaduras por fogos e queimaduras solares. No Gráfico 2 é possível observar o número de atendimentos separados mensalmente.

Gráfico 2 - Número de atendimentos separados mensalmente.

Nos atendimentos realizados foram apontadas diversas causas de queimaduras. O principal agente agressor para os pacientes estudados, com número expressivo de 55,77% das pessoas, foi por líquidos escaldantes, englobando água, óleo, leite, café e chá em altas temperaturas. A segunda causa, com 14,30% dos casos, foi o contato com superfícies aquecidas, resultando em 629 afetados. O fogo acometeu 324 queimados pelo contato direto com a chama, que representa 7,36% dos atendimentos.

Foram vítimas de choque elétrico, situação que exige internamento, 53 pacientes, predominando homens adultos jovens. Destacam-se ainda 102 episódios de queimadura solar, principalmente no último trimestre, todos manejados ambulatorialmente. Alguns pacientes não tiveram a causa da queimadura informada, representando 25 pacientes. As causas de queimaduras estão representadas no Gráfico 3.

Gráfico 3 - Causas de queimaduras em 2017.

De todos os atendimentos, 391 pacientes necessitaram ser internados, representando 8,89% dos pacientes; 3.397 pacientes não demandaram internamento e 10 dos pacientes atendidos não apresentavam essas informações relatadas.

DISCUSSÃO

As queimaduras representam um importante agente causador de danos que não só ameaçam a vida, mas que representam aos sobreviventes de lesões térmicas estigmas funcionais e estéticos importantes. A maioria das queimaduras acomete pacientes em idades laborais, as quais representam prejuízo relacionado ao absenteísmo ocupacional.

A faixa etária mais acometida foi de pacientes entre 20 e 60 anos, com 2.807 pacientes que representam 63,8% dos atendimentos. Essa faixa etária mais acometida trata-se daquela em que se concentra a maior força produtiva de mão de obra, sendo os adultos jovens os com maior taxa de acometimento de lesões térmicas.

Há, ainda, um predomínio de mulheres na amostra em geral, majoritariamente entre mulheres adolescentes, adultas e idosas. Esses dados se tornam importantes, uma vez que mulheres jovens em idade reprodutiva têm suas vidas limitadas pela queimadura e suas complicações.

O número de pacientes idosos queimados merece destaque por ser grupo de risco que apresenta maior morbimortalidade e custo com cuidados hospitalares, visto que esse grupo geralmente manifesta outras comorbidades relacionadas.

Quanto ao agente causador, as queimaduras podem ser resultantes da exposição a chamas, líquidos quentes, superfícies quentes, frio, substâncias químicas, radiação, atrito, fricção ou corrente elétrica. As queimaduras por escaldo, na literatura, são as mais comuns em todas as faixas etárias6. O presente estudo apresentou resultados que corroboram, portanto, com os dados da literatura no que concerne aos agentes etiológicos, representados por 56% das causas de queimaduras dos pacientes atendidos. Destacamos como principais causadores o café, chá e alimentos quentes. A queimadura em superfície aquecida representa um número significativo de pacientes, representando 14,3% das queimaduras.

Em relação às ocorrências mensais de queimaduras no referido intervalo de tempo pesquisado, também se constatou que os acidentes aconteceram durante todos os meses com poucas variações. No entanto, o mês de janeiro obteve o maior número de registros com 464 casos (10,55%), seguido dos meses de fevereiro (413; 9,39%) e dezembro (410; 9,32%). Um dos motivos para a elevação de registros de queimaduras no mês de janeiro e dezembro, possivelmente está relacionado às festividades de final de ano comemoradas em grande intensidade nessa época, principalmente nas que é tradição a utilização de fogos de artifícios. Estes são frequentemente manuseados não apenas por adultos, mas também pelas crianças, elevando os riscos de acidentes.

CONCLUSÃO

O perfil epidemiológico encontrado nesse serviço, para as vítimas admitidas por conta de acidentes envolvendo queimaduras, foi maior em pacientes do gênero feminino. A taxa de idade de maior acometimento foi entre 20 e 40 anos, sendo a escaldadura o principal agente etiológico. Houve também uma porcentagem significativa de pacientes menores de 19 anos, nos quais a principal causa de queimadura também foi a escaldadura, principalmente em ambientes domésticos.

O acesso à cultura, crenças e aos hábitos de vida da família é essencial por parte dos profissionais de saúde para subsidiar o planejamento de atividades preventivas periódicas. Dessa forma, tendo por base a realidade vivenciada por cada família, será possível estimular a prevenção desses acidentes e promover uma melhor assistência e qualidade de vida às vítimas de queimaduras, quando inevitáveis.

Por fim, ressalta-se que os achados deste estudo apresentam limitações por se tratar de estudo retrospectivo no qual algumas variáveis, como a avaliação do momento do trauma e o perfil individual dos pacientes, dentre outras, não foram profundamente elucidadas. Assim sendo, sugere-se a realização de novos estudos que abordem essas limitações.

REFERÊNCIAS

1. Batista BFC. Perfil epidemiológico de pacientes que sofreram queimaduras no Brasil: revisão de literatura. Rev Bras Queimaduras. 2012; 11:246-50.

2. Macedo JLS, Rosa SC. Estudo epidemiológico dos pacientes internados na Unidade de Queimados: Hospital Regional da Asa Norte, Brasília, 1992-1997. Brasília Med. 2000; 37:87-92.

3. Leão CEG. Queimaduras. In: Fonseca FP, Rocha PRS (eds.). Cirurgia ambulatorial. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1999. p. 122-8.

4. Fernandes FMFA, Torquato IMB, Dantas MAS, Pontes Júnior FAC, Ferreira JA, Collet N. Queimaduras em crianças e adolescentes: caracterização clínica e epidemiológica. Rev Gaúcha Enferm. 2012; 33(4):133-41. DOI: https://doi.org/10.1590/S1983-14472012000400017

5. Serra MCVF, Gomes DR, Crisóstomo MR. Fisiologia e fisiopatologia. In: Maciel E, Serra MC. Tratado de queimaduras. São Paulo: Atheneu; 2006. p.37-42.

6. Mariani U. Queimaduras. In: Marcondes E (ed.). Pediatria básica. 8 ed. São Paulo: Sarvier; 1991. p.866-70.











1. Hospital Universitário Evangélico Mackenzie, Curitiba, PR, Brasil.
2. Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.
3. Hospital Santa Casa, Curitiba, PR, Brasil.
4. Hospital Cajuru, Curitiba, PR, Brasil.
5. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.

Endereço Autor: Taynah Bastos Lima da Silva Avenida Republica Argentina, nº 965 apto 601 - Agua Verde, Curitiba, PR, Brasil CEP 80620010 E-mail: taynah_b@hotmail.com

 

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