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                        Experiência do Hospital Universitário da USP com o curativo de pressão negativa tópica para o tratamento de feridas complexas
                    
                    Introduzimos em nosso meio um curativo que utiliza os mesmos princípios da pressão negativa, porém utiliza como fonte de vácuo o circuito de aspiração da rede hospitalar, com uma pressão estabilizada a partir de uma válvula reguladora de pressão negativa. Em 2008, foi patenteado por Kamamoto e Moraes um equipamento com tecnologia nacional que também utiliza a pressão negativa para o tratamento de feridas complexas.
OBJETIVO
Relatar a experiência do Hospital Universitário da USP com o curativo de pressão negativa tópica (CPNT-USP) no tratamento de feridas complexas.
MATERIAL E MÉTODOS
1. Teste de Toxicidade da Esponja: Foram realizados, no Instituto de Pesquisas com Energia Nuclear (IPEN) da USP, os testes com o objetivo de verificar a citotoxicidade de amostra de espuma utilizada no novo procedimento para tratamento de feridas. Ele foi realizado segundo a norma ISO 10993-5: 1999 Biological evaluation of medical devices Part5: Tests for cytotoxicity: in vitro methods. 2. Utilização do CPNTUSP: O CPNT-USP foi utilizado com duas finalidades: estímulo do crescimento de tecido de granulação na ferida ou curativo para fixação de enxertos de pele no pós-operatório. Foram incluídos, neste estudo, pacientes portadores de feridas crônicas com as doenças de base compensadas; pacientes portadores de feridas complexas, tais como ferimentos descolantes traumáticos, deiscências de incisões cirúrgicas (abdominais e membros inferiores); vítimas de trauma com síndrome compartimental em membros; e pacientes que foram submetidos a enxertos de pele em locais de difícil fixação, na forma de curativo. O CPNT-USP foi aplicado a partir da colocação de esponjas de poliuretano estéreis que são também utilizadas para antissepsia cirúrgica, em quantidade suficiente para a cobertura completa do leito da ferida. Conectamos a essas esponjas um dreno tubular multiperfurado (Portvac® tamanho 4.8). Sobre esse sistema, utilizou-se um curativo tipo filme plástico transparente (Opsite® Smith & Nephew) com o intuito de vedar o curativo. O dreno multiperfurado foi ligado ao sistema de aspiração do hospital, através de uma válvula reguladora de pressão patenteada pela USP (IRV2000-NO2G-KZN00210 Ventrix®) ajustada a uma pressão subatmosférica de 125 mmHg. As trocas dos curativos foram feitas à beira do leito, a cada 48 ou 72 horas, realizando previamente analgesia com Tramadol 100mg endovenoso e limpeza com solução fisiológica da ferida. Quando o leito dessas feridas apresentou tecido de granulação em condições adequadas, esses pacientes foram submetidos a enxertia de pele parcial ou rotação de retalhos, ou quando o CPNT-USP foi utilizado como curativo para área de enxerto, o mesmo foi retirado após 4 dias, para avaliação da integração deste, e sua avaliação quanto a integração no leito receptor foi realizada por um médico cirurgião plástico considerando a porcentagem de área enxertada que permaneceu viável após a retirada do curativo.
RESULTADOS
1. Teste de Toxicidade da Esponja. Avaliada a viabilidade celular das amostras de espuma de poliuretano nas diferentes diluições do extrato, demonstrando que em nenhuma das amostras foi observado o IC50, parâmetro utilizado na avaliação da citotoxicidade de um material. Na análise do extrato puro (extrato na concentração 100%), foi observada uma citotoxicidade leve não considerada estatisticamente significativa. 2. O Curativo de Pressão Negativa Tópica USP (CPNT-USP): O CPNT-USP foi aplicado a 27 pacientes portadores de feridas crônicas e/ou complexas internados no Hospital Universitário da Universidade de São Paulo, no período de julho de 2008 a março de 2009. A idade média dos pacientes foi de 38 ± 18,8 anos, sendo 15 (55,5%) do sexo masculino. O curativo foi aplicado na maioria das vezes na perna (33,3%), seguido pela região abdominal decorrente de deiscência de feridas cirúrgicas e peritoniostomias (29,6%), e pé (18,5%); região cervical (7,4%), região sacral, períneo e tornozelo foram as outras localizações também submetidas ao tratamento. As feridas em membros inferiores apresentaram etiologias distintas, sendo que em 55,5% dos casos o tratamento foi realizado em úlceras venosas, enquanto que no restante a ferida foi decorrente de trauma local. Nas feridas presentes nos pés, a grande maioria (80%) correspondeu à ferida diabética. Em relação ao número de trocas que foram necessárias para o leito da ferida estar apto para enxertia, em 39% dos casos duas trocas foram suficientes para a realização do tratamento definitivo, em 11% dos casos apenas uma troca foi suficiente e o número máximo de trocas verificado foi de quatro em 16% dos pacientes. Em relação à resolução da ferida, 62,9% das feridas submetidas ao CPTN-USP foram tratadas após a utilização deste com enxertia de pele parcial, utilizando-o como curativo para a fixação do enxerto em 78% dos casos. Retalho cutâneo foi utilizado em 11,2% dos casos e sua combinação com enxertia ocorreu em 3,7% das vezes, sendo o fechamento primário realizado nos 22,2% restantes. Os índices de integração dos enxertos onde o CPTN-USP foi utilizado como curativo para fixação foram de 92,69 ± 10,91%, sendo o mínimo de 70% de integração do enxerto e o máximo a integração total (100%). Todas as feridas submetidas ao CPNT-USP foram consideradas resolvidas no período do estudo, não havendo até o momento recorrência ou outras complicações das mesmas.
CONCLUSÃO
CPNT-USP é uma opção de baixo custo e de fácil execução, podendo ser utilizado nos mais variados centros de saúde. Ele foi capaz de acelerar o crescimento do tecido de granulação, bem com de diminuir o descolamento das bordas e o edema da ferida, obtendo os resultados esperados para a terapia realizada com os curativos comercializados previamente a sua invenção.



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