ISSN Online: 2177-1235 | ISSN Print: 1983-5175

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Original Article - Year2006 - Volume21 - Issue 3

ABSTRACT

A type of dressing is presented, for donor areas of partialthickness skin grafts, using a plastic PVC film. Twenty five patients have been followed, all with uniformly good evolution. The use of this material is recommended, as it has several advantages: it is easily found, is easily manipulated, has a very low cost and, above all, allows for good results.

Keywords: Skin transplantation. Bandages. Occlusive dressings

RESUMO

Apresenta-se uma modalidade de curativo para áreas doadoras de enxertos de pele parcial, utilizando-se filme plástico de PVC. Foram observados 25 pacientes, com evolução uniformemente boa. Recomenda-se a utilização deste material, por ter várias vantagens: ser facilmente encontrável, ser de fácil manipulação, ter custo muito baixo e, sobretudo, permitir bons resultados.

Palavras-chave: Transplante de pele. Bandagens. Curativos oclusivos


INTRODUÇÃO

São inúmeras as modalidades de tratamento de áreas doadoras de enxertos de pele parcial. Os cirurgiões plásticos obedecem a preferências pessoais ou seguem recomendações da literatura médica. Observam-se desde condutas puramente expectantes - não fazer nada, deixando exposta a área cruenta - até muito intervencionistas, como curativos comuns com gaze ou morim, de troca difícil e dolorosa. Um grande número de curativos já foi experimentado nas áreas doadoras, o que traduz a dificuldade de encontrar algo definitivo. Já foi relatado o uso de gaze parafinada1,2, alginato, alginato com filme1, fitas adesivas de retenção3, membranas de ovos4, mel5, espuma hidrocelular6, carboximetilcelulose7 e hidrogel de glicosaminoglicanas8. Um bom curativo deveria reduzir a dor, propiciar ou acelerar a epitelização e ter custo acessível. Os ambientes úmidos são mais favoráveis à epitelização e à cicatrização do que os secos, em virtude de redução de desidratação e morte das células expostas9.

O presente trabalho relata o uso de um material de custo irrisório e encontrável com facilidade - o filme plástico de cloreto de polivinila (PVC) - em áreas doadoras de enxertos de pele parcial.


MÉTODO

Foram observados, prospectivamente, 25 pacientes submetidos aos procedimentos padronizados abaixo descritos. Todos os pacientes foram informados de que integravam um grupo de pesquisa, foram cientificados de que o filme de PVC não era esterilizado e assinaram termos de consentimento com menção específica a este fato. Os casos compuseram uma série ininterrupta de pacientes consecutivos, do autor, submetidos a enxertia de pele parcial. Seus dados estão sumariados na Tabela 1. Foram observados quanto à sua evolução, desde a intervenção até o término da epitelização da área doadora. Os achados foram anotados, diariamente, em seus prontuários. Os dados foram tabulados e analisados.




Foram utilizados, em todos os casos, os seguintes procedimentos:

1 . Após a remoção do enxerto com dermátomo manual ou elétrico, a área doadora foi deixada em repouso por tempo suficiente para que o sangramento cessasse espontaneamente;

2. A pele circunjacente foi limpa com solução salina fisiológica e recebeu tintura de benjoim;

3. Foi recortado um segmento de filme de PVC suficiente para cobrir a área cruenta e mais 2 cm em seu entorno;

4. O filme foi fixado à pele vizinha com fita microporosa, em todo o seu perímetro (Figura 1);


Figura 1 - Filme de PVC fixado à área doadora logo após a operação.



5. Este curativo foi trocado, tantas vezes quanto necessário, até a epitelização se completar. O critério para troca foi o acúmulo de secreção serosa sob o filme.


RESULTADOS

Não houve nenhum caso de infecção. Os pacientes não se queixaram de dor ou ardência importantes, sendo que a maioria prescindiu do uso de analgésicos.

A área doadora, sob o filme plástico, mostrou-se sempre úmida. Um dado normal foi o acúmulo moderado de secreção serosa, requerendo troca simples do filme de PVC. Isto ocorreu, em média, a cada 3 dias. A troca foi indolor.

A cicatrização da área tratada se processou sem incidentes, em um tempo médio de 10 dias (Figura 2).


Figura 2 - Área doadora no 9º dia pós-operatório, recoberta com o filme plástico.



DISCUSSÃO

Os desideratos de dor reduzida, epitelização sem incidentes, custo acessível e ambiente úmido para a cicatrização puderam ser alcançados, nas áreas doadoras de enxertos de pele parcial, no presente trabalho, com o uso do filme de PVC. O acúmulo de secreção serosa, transudando da área doadora, propiciou umidade constante. Quando tal acúmulo tornou-se excessivo, prejudicando a visualização da área e transbordando de dentro da área isolada pelo filme e pelas fitas que o mantinham preso, foi feita a troca do curativo.

Há precedentes de seu uso médico, como curativo, já tendo sido empregado de modo temporário em queimaduras10, bem como após ritidectomias11. A literatura médica mostra apenas um relato do uso deste filme em áreas doadoras de enxertos de pele parcial, comparando-se tal material com outros, como o curativo pronto OpSite e a gaze12. Os autores deste trabalho reportaram bons resultados, sem infecção, não relatando diferenças entre o curativo pronto e o filme de PVC, sendo ambos, segundo afirmaram, melhores do que a gaze.

O fato de o filme, no presente trabalho, não ser estéril, não levou ao aparecimento de infecção em nenhum dos casos estudados. De fato, não parece ser indispensável que esteja esterilizado, visto que a própria flora bacteriana da pele vizinha à área doadora se refaz em poucas horas após o uso do anti-séptico na operação. Isto parece tornar pouco importante a esterilização do filme (que não pode ser feita por calor, embora seja factível, com considerável aumento de custos, com raios-gama ou óxido de etileno). Mais um reforço a este argumento vem do fato de que, mesmo como curativo de queimaduras, que são lesões mais complexas e com maior incidência de invasão bacteriana do que áreas doadoras de enxertos de pele parcial, o filme de PVC não-estéril não se associou a infecções13.

Há curativos estéreis e prontos para uso, feitos com materiais análogos ao usado neste estudo. Entretanto, a diferença de preço é muito grande. Embora não deva ser fator preponderante e absoluto, o custo dos materiais é importante em todos os estabelecimentos de saúde e, mais ainda, em hospitais filantrópicos e na rede pública.

Estes fatos, aliados ao custo irrisório, à fácil obtenção e aos bons resultados observados, recomendam o filme de PVC como um curativo adequado para o tratamento das áreas doadoras de enxertos de pele parcial.


CONCLUSÃO

Recomenda-se o uso do filme de PVC como curativo-padrão de áreas doadoras de enxertos de pele parcial, em razão dos bons resultados, da ausência de infecções no presente estudo, do custo muito baixo e da fácil disponibilidade.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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12. Poonyakariyagorn T, Sirimaharaj W, Pinchai O, Angspatt A. Comparison among Op-site, polyvinyl chloride film and tulle gauze in the treatment of skin graft donor site. J Med Assoc Thai. 2002;85(4):455-61.

13. Milner RH, Hudson SJ, Reid CA. Plasticized polyvinyl chloride film as a primary burns dressing: a microbiological study. Burns Incl Therm Inj. 1988;14(1):62-5.










Doutor em Cirurgia pela UFMG. Professor da UNINCOR. Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

Correspondência para:
Tufi Neder Meyer
Rua Desembargador Alberto Luz, 129 - Centro
Três Corações - MG - CEP 37410-000
Telefax: (0xx35) 3231-2147
E-mail: tufi@uai.com.br

Trabalho realizado na UNINCOR (Universidade do Vale do Rio Verde), Hospital São Sebastião, Sulplast Clínica Cirúrgica e Sanatório Santa Fé (FHEMIG), Três Corações, MG. Trabalho apresentado no 42º Congresso Brasileiro de Cirurgia Plástica, Belo Horizonte, novembro de 2005.

Artigo recebido: 01/02/2006
Artigo aprovado: 19/07/2006

 

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