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Contorno Corporal - Year2018 - Volume33 - (Suppl.1)

http://www.dx.doi.org/10.5935/2177-1235.2018RBCP0025

RESUMO

INTRODUÇÃO: O sucesso de uma Cirurgia Plástica depende de cuidados ainda no pré-operatório, visto que complicações ocorrem em cerca de 17% dos casos. Faz parte da avaliação a realização de exames laboratoriais complementares. Os pacientes sofrem alterações súbitas das funções metabólicas e fisiológicas em resposta ao trauma, que variam em intensidade, de acordo com o procedimento a que foram submetidas. Tem por objetivo a avaliação dos índices laboratoriais em pacientes hígidos, selecionados a cirurgia plástica eletiva de lipoabdominoplastia.
MÉTODOS: Foram avaliadas amostras de sangue de 59 pacientes em perioperatório de lipoabdominoplastia no período de 2015 a 2017.
RESULTADOS: A primeira amostra do perfil laboratorial das pacientes foi semelhante aos exames pré-operatórios. hemoglobina teve uma queda de 12% e 19%, respectivamente, nas 2ª e 3ª amostras. A glicemia teve um aumento de 124% e 144%. O nível médio de colesterol apresentou queda significativa.
CONCLUSÃO: O presente trabalho permitiu a observação dos níveis de elementos sanguíneos na vigência de uma resposta endocrinometabólica e imunológica ao trauma, porém sem comprometimento sistêmico grave no pós-operatório imediato em cirurgias eletivas de lipoabdominoplastias não combinadas.

Palavras-chave: Período perioperatório; Procedimentos cirúrgicos reconstrutivos; Investigação laboratorial; Abdominoplastia.


INTRODUÇÃO

O sucesso de uma Cirurgia Plástica não depende apenas dos resultados pós-cirúrgicos. Os cuidados devem ser iniciados ainda no pré-operatório, uma vez que o preparo inicial é fundamental para a evolução favorável após o procedimento. A avaliação pré-operatória tem como objetivo otimizar a condição clínica do paciente candidato a cirurgia eletiva visando reduzir a morbimortalidade perioperatória1-4.

Complicações clínicas no período pós-operatório podem ser evidenciadas em cerca de 17% dos pacientes, sendo atribuídas, principalmente, à exacerbação de doença preexistente ou aparecimento de doença inesperada, e podem surgir com até 30 dias de evolução, resultando em necessidade de intervenção terapêutica5.

A avaliação pré-operatória requer a realização de anamnese, exame físico minucioso e, quando necessário, exames laboratoriais complementares visando estimar o risco cirúrgico, identificar possíveis anormalidades que possam aumentar a resposta ao trauma cirúrgico ou influenciar negativamente na recuperação do mesmo e, ainda, auxiliar na formulação de planos específicos ou alternativos para o cuidado anestésico6,7.

Na prática clínica, pacientes hígidos, com idade inferior a 40 anos, sem fatores de risco prévios, não necessitam de exames laboratoriais pré-operatórios. Entretanto, visando à otimização das condições clínicas para cirurgia eletiva, alguns serviços de Cirurgia Plástica preconizam a realização de exames rotineiros8.
Mesmo com boas condições de saúde previamente documentadas, necessárias a uma Cirurgia Plástica Estética, os pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos sofrem alterações súbitas das funções metabólicas e fisiológicas, que variam em intensidade, de acordo com o procedimento a que foram submetidas9.

Sabe-se que o conjunto de alterações endócrino, imunológico e metabólico que decorrem do trauma cirúrgico desencadeia a ativação dos mecanismo de coagulação, desvio de líquidos para o espaço intravascular com redistribuição do fluxo sanguíneo, desequilíbrio hidroeletrolítico, aumento do débito cardíaco, lipólise, proteólise, aumento da glicogenólise e da gliconeogênese. Tais alterações se traduzem em um estado hipercatabólico que tem como finalidade manter ou restaurar a homeostasia, a preservação do aporte de oxigênio, a mobilização de substratos calóricos (glucose, proteínas e lipídios) e finalmente a diminuição da dor e manutenção da temperatura9,10.

Pouco se tem na literatura sobre a avaliação dos índices hematimétricos, marcadores inflamatórios, função renal e eletrólitos no período perioperatório em pacientes hígidos, selecionados a cirurgia plástica eletiva, com exceção de pacientes pós-bariátricos. De tal modo, que se torna relevante na avaliação desses pacientes10, uma vez que permitirá avaliar ou tentar quantificar de agressão e de uma resposta endocrinometabólica ao trauma proporcional ao grau de classificação dessas cirurgias eletivas.


OBJETIVO

Avaliar o perfil laboratorial no perioperatório de lipoabdominoplastias entre janeiro de 2015 e janeiro de 2017.


MÉTODOS

Estudo retrospectivo descritivo, por meio de análise do perfil laboratorial de 59 pacientes submetidas a cirurgia de lipoabdominoplastia no período de 2015 a 2017, no Serviço de Residência de Cirurgia Plástica Dr. Ewaldo Bolivar de Souza Pinto e Clínica Corpo e Arte - Dr. João Paulo Tessari. Critérios de exclusão: Paciente com dados incompletos ou não encontrados; pacientes que realizaram cirurgias combinadas; pacientes pós-bariátricas; Pacientes com índice de massa corporal (IMC) > 40.

Todas as pacientes candidatas à cirurgia de lipoabdominoplastia estavam com todos os exames pré-operatórios com os valores normais. No dia da cirurgia foram colhidos também exames para avaliar o perfil laboratorial. Este perfil laboratorial foi realizado em 3 amostras de sangue, da seguinte forma: a primeira amostra realizada na indução anestésica; a segunda amostra realizada no final da cirurgia; a terceira amostra realizada no 1ª dia pós-operatório, antes da alta médica da paciente.


RESULTADOS

No período de janeiro de 2015 a janeiro de 2017, 65 pacientes foram submetidos à lipoabdominoplastia não combinada. Foram analisados um total de 59 prontuários que se encaixavam nos critérios de inclusão. As pacientes em pré-operatório de lipoabdominoplastia deveriam estar com exames laboratoriais normais. Todas as pacientes foram do sexo feminino. Evidenciou-se que a primeira amostra do sanguínea foi semelhante aos exames pré-operatórios.

A média da hemoglobina foi de 13,8 mg/dL e hematócrito de 41,4 md/dL. hemoglobina teve queda de 12% (12,2 md/dL) e 19% (11,2 md/dL), respectivamente, nas 2ª e 3ª amostras, porém não houve queda significativa das plaquetas, 7% e 12%, respectivamente (Figura 1). A glicemia teve aumento médio de 124% (108,4 mg/dL) e 144% (126 mg/dL) (Figura 2). Não houve alteração significativa dos níveis de ureia, creatinina, potássio e sódio séricos (Figura 3).


Figura 1. Perfil do hemograma (Hb, Ht, plaquetas). Séries 1 - Primeira Amostra; Séries 2 - Segunda Amostra; Séries 3 - Terceira Amostra.


Figura 2. Perfil glicêmico e lipídico (glicose, colesterol, triglicérides, HDL). Séries 1 - Primeira Amostra; Séries 2 - Segunda Amostra; Séries 3 - Terceira Amostra.


Figura 3. Perfil eletrólitos (ureia, creatinina, potássio). Séries 1 - Primeira Amostra; Séries 2 - Segunda Amostra; Séries 3 - Terceira Amostra.



O colesterol apresentou queda média de 25% entre a primeira e terceira amostras, o HDL apresentou queda média de 8% entre a primeira e terceira amostras, enquanto que o nível médio triglicerídeo apresentou na segunda amostra aumento de 20% (130 mg/dL) e posteriormente queda de 40% (86 mg/dL) na terceira amostra (Figura 2).


DISCUSSÃO

Houve queda de cerca 20% do nível médio de hemoglobina, entretanto, apenas 12% (7) das pacientes apresentaram queda da hemoglobina para valores abaixo de 10 mg/dL, sendo que o menor valor foi 9,3 md/dL. Assim, evidenciou o pouco sangramento na lipoabdominoplastia, visto que no pós-operatório imediato ocorre também uma hemodiluição relativa. A manutenção dos níveis séricos de ureia, creatinina e sódio demonstra um controle hemodinâmico através de uma perfusão renal adequada no intra e pós-operatório.

Não é possível afirmar que a queda dos níveis médios do colesterol e triglicerídeos possa ser considerada como efeito da própria cirurgia, em que há redução da gordura abdominal, visto que também há uma resposta endocrinometabólica e imunológica ao trauma, com diminuição sérica de lipídeos, necessitando assim de amostras de um pós-operatório tardio. O aumento dos níveis de PCR e CPK evidencia um grau pequeno a moderado de resposta inflamatória e lesão muscular, respectivamente. Os dados obtidos corroboram com dados da literatura para cirurgias de médio porte. Os demais dados estão presentes nas Figuras 1, 2 e 3.


CONCLUSÃO

O presente trabalho permitiu demonstrar, por meio da análise de marcadores laboratoriais, que ocorre uma resposta endocrinometabólica e imunológica ao trauma, sem um comprometimento sistêmico grave no pós-operatório imediato em cirurgias eletivas de lipoabdominoplastias não combinadas.


REFERÊNCIAS

1. García-Miguel FJ, Serrano-Aguilar PG, López-Bastida J. Preoperative assessment. Lancet. 2003;362(9397):1749-57. PMID: 14643127 DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S0140-6736(03)14857-X

2. Munro J, Booth A, Nicholl J. Routine preoperative testing: a systematic review of the evidence. Health Technol Assess. 1997;1(12):i-iv;1-62.

3. Narr BJ, Warner ME, Schroeder DR, Warner MA. Outcomes of patients with no laboratory assessment before anesthesia and a surgical procedure. Mayo Clin Proc. 1997;72(6):505-9. DOI: http://dx.doi.org/10.4065/72.6.505

4. Velanovich V. The value of routine preoperative laboratory testing in predicting postoperative complications: a multivariate analysis. Surgery. 1991;109(3 Pt 1):236-43.

5. Khuri SF, Daley J, Henderson W, Barbour G, Lowry P, Irvin G, et al. The National Veterans Administration Surgical Risk Study: risk adjustment for the comparative assessment of the quality of surgical care. J Am Coll Surg. 1995;180(5):519-31.

6. Lacerda MS, Sampaio RL, Nunes TC. Estudo hematológico e cardiorrespiratório em cadelas anestesidas com cetamina-s/xilazina e tiletamina/zolazepam e submetidas a ovariohisterectomia. Biosci J (Uberlândia). 2010;26(6):913-8.

7. Gualandro DM, Yu PC, Calderaro D, Marques AC, Pinho C, Caramelli B, et al. II Diretriz de Avaliação Perioperatória da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Arq Bras Cardiol. 2011;96(3 Supl. 1):1-68.

8. Colégio Brasileiro dos Cirurgiões. Programa de Auto-avaliação em cirurgia - Pré e pós-operatório. Rio de Janeiro: Diagraphic; 2001.

9. Desborough JP. The stress response to trauma and surgery. Br J Anaesth. 2000;85(1):109-17. PMID: 10927999 DOI: http://dx.doi.org/10.1093/bja/85.1.109

10. Santos CF, Amado T, Sandri YP, Frizzo MN. Alterações dos parâmetros laboratoriais em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica. Rev Saúde Integ. 2014;7:9-30.











Hospital Ana Costa, Santos, SP, Brasil

* Endereço Autor:
Roosevelt Santos Oliveira Junior
Avenida Ana Costa, 120 - Vila Mathias
Santos, SP, Brasil - CEP 11060-000
E-mail: junior_ios@hotmail.com

 

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