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Editorials - Year2019 - Volume34 - Issue 3

http://www.dx.doi.org/10.5935/2177-1235.2019RBCP0200

A cirurgia plástica, diferentemente de outras especialidades cirúrgicas, não se define por topografia anatômica ou aparelho. Em sua base estão princípios e conceitos aplicados na reconstrução e também na estética. Desta forma, para o leigo e mesmo para outros colegas médicos, torna-se difícil defini-la e caracterizar nosso escopo de atuação. Desde o fio de cabelo até a ponta dos pés, passando por pele, nervos, tendões e ossos: esta é a nossa real área de atuação1.

É isso o que torna nossa especialidade fascinante e também única. É esta característica que nos permite ser criativos. Face a um problema reconstrutivo, podemos tomar múltiplos caminhos que levarão a um resultado igualmente bom. Mais do que isso, podemos “transferir e combinar experiências adquiridas em uma região topográfica para uso inovador em outras”2. Por outro lado, isso também é o nosso calcanhar de Aquiles.

Segundo diversos estudos publicados tanto no Brasil quanto em outros países, o cirurgião plástico não é reconhecido pela população em geral como médico capacitado a realizar procedimentos que estão tradicionalmente dentro de nosso escopo, como anomalias congênitas da mão, fendas labiopalatinas e tratamento de queimaduras, por exemplo. Pior, essa percepção ocorre também, em alguma medida, com estudantes de medicina e mesmo com colegas de outras especialidades3-7.

Devido à natureza de nossa prática, sempre estaremos posicionados em áreas de intersecção do conhecimento com as especialidades de definição mais tradicional, e como a última verdadeira “Cirurgia Geral”, dificilmente estaremos restritos a apenas uma região topográfica em nosso dia a dia1. Isso certamente dificulta nosso posicionamento de mercado dentro de uma medicina cada vez mais compartimentalizada. Por outro lado, sem esse espírito de “resolvedor de problemas”, que permitiu os trabalhos seminais de indivíduos como Litler, Buncke, Millesi e tantos outros; provavelmente, estaremos perdendo uma característica fundamental de nossa especialidade. Não custa lembrar que o único cirurgião plástico agraciado com um Nobel, Joseph Murray, mereceu o prêmio pelos seus estudos na Imunologia dos Transplantes.

Em tempos de crise econômica, invasão da especialidade e incertezas quanto à viabilidade econômica de nossa carreira para os mais jovens, torna-se crucial uma reflexão a respeito da imagem que queremos transmitir à sociedade civil e aos nossos colegas atuais e futuros.

De que forma fazer isso? Esta questão não é fácil de responder, mas certamente passa pela reconstrução - que trocadilho mais bem colocado não? -, da imagem do cirurgião plástico como aquele competente para realizar tanto a estética quanto a reparação. Desta forma, garantiremos nossa sobrevivência como especialidade, marcando mais enfaticamente nosso lugar nesse mercado de trabalho cada vez mais difícil e competitivo.

HUGO ALBERTO NAKAMOTO

Coeditor da RBCP

1. Lineweaver W. Confessions of a part-time hand surgeon. Ann Plast Surg. 2011 Mar;66(3):217-8.

2. Furlow Junior L. Plastic surgery: generic or proprietary?. Plast Reconstr Surg. 1992 Dec;90(6):1059-60.

3. Kim DC, Kim S, Mitra A. Perceptions and misconceptions of the plastic and reconstructive surgeon. Ann Plast Surg. 1997 Apr;38(4):426-30.

4. Dunkin CS, Pleat JM, Jones SA, Goodacre TE. Perception and reality—a study of public and professional perceptions of plastic surgery. Br J Plast Surg. 2003 Jul;56(5):437-43.

5. Tanna N, Patel NJ, Azhar H, Granzow JW. Professional perceptions of plastic and reconstructive surgery: what primary care physicians think. Plast Reconstr Surg. 2010 Aug;126(2):643-50.

6. Agarwal JP, Mendenhall SD, Moran LA, Hopkins PN. Medical student perceptions of the scope of plastic and reconstructive surgery. Ann Plast Surg. 2013 Mar;70(3):343-9.

7. Denadai R, Araujo KM, Samartine Junior H, Denadai R, Raposo-Amaral CE. Public Perceptions of Plastic Surgery Practice in Brazil. Indian J Surg. 2016 Dec;78(6):435-441.











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