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Original Article - Year2023 - Volume38 - Issue 1

http://www.dx.doi.org/10.5935/2177-1235.2023RBCP0655-PT

RESUMO

Introdução: A obesidade e o sobrepeso vêm aumentando no Brasil e no mundo, de uma forma expressiva, assim como a procura por cirurgias bariátricas. Em consequência, a cirurgia plástica pós-bariátrica também cresceu, com destaque para a dermolipectomia abdominal. O objetivo é descrever a frequência das cirurgias plásticas pós-bariátricas feitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no período de 1 de janeiro de 2015 a 21 de outubro de 2020.
Método: Estudo ecológico, no qual foram selecionados indivíduos que realizaram cirurgias pós-bariátricas pelo SUS obtidos pelo Sistema de Informações Hospitalares do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Foram analisados dados dos 27 estados do território nacional e utilizaram-se as variáveis: sexo, faixa etária, procedimento realizado, grau de instrução.
Resultados: A Região Sudeste do país apresentou maiores números de cirurgias pós-bariátricas. Já indivíduos da cor branca apresentaram números maiores do que outras raças (60,9%); a dermolipectomia abdominal foi a mais frequente (53,7%), em seguida, a mamoplastia (22,3%).
Conclusão: As cirurgias plásticas tiveram aumento expressivo nos últimos cinco anos e são mais frequentes entre mulheres, brancas, com faixa etária de 35 a 44 anos, residentes na Região Sudeste do país.

Palavras-chave: Obesidade; Cirurgia bariátrica; Abdominoplastia; Redução de peso; Procedimentos cirúrgicos reconstrutivos; Sistema Único de Saúde

ABSTRACT

Introduction: Obesity and overweight have been increasing in Brazil and in the world, in an expressive way, as well as the demand for bariatric surgeries. As a result, post-bariatric plastic surgery has also grown, especially abdominal dermolipectomy. The objective is to describe the frequency of post-bariatric plastic surgeries performed by the Unified Health System (SUS - Sistema Único em Saúde, in portuguese) from January 1, 2015 to October 21, 2020.
Methods: Ecological study, where individuals who underwent post-bariatric surgeries were selected. bariatric tests by SUS obtained by the Hospital Information System of Department of Informatics of the Unified Health System (DATASUS - Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, in portuguese). Data from the 27 states of the national territory were analyzed and the following variables were used: gender, age group, procedure performed, level of education.
Results: The southeastern region of the country had the highest number of post-bariatric surgeries. White individuals, on the other hand, had higher numbers than other races (60.9%), abdominal dermolipectomy was the most frequent (53.7%) followed by mammoplasty (22.3%).
Conclusion: Plastic surgeries have increased significantly in the last five years, and are more frequent among white women, aged between 35 and 44 years, living in the southeastern region of the country.

Keywords: Obesity; Bariatric surgery; Abdominoplasty; Weight loss; Reconstructive surgical procedures; Unified Health System


INTRODUÇÃO

A obesidade e o sobrepeso vêm aumentando no Brasil e no mundo. Essas comorbidades são consideradas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma epidemia mundial ocasionada, principalmente, pela alimentação inadequada e o sedentarismo1. No Brasil, em 2018, cerca de 55,7% da população adulta estava com excesso de peso e 19,8% era obesa2. Neste contexto, a procura por cirurgias bariátricas tem aumentado e isso foi ainda mais expressivo no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

Entre os anos de 2001 e 2014, foram realizadas 49.425 cirurgias bariátricas pelo SUS. A cirurgia bariátrica é considerada a forma mais efetiva de tratamento em longo prazo para controle da obesidade, resultando em uma importante perda de peso. Cerca de um ano após a realização da cirurgia bariátrica, os pacientes podem perder cerca 45% do seu peso inicial, o que leva à remanescência de um excesso de pele considerável, que resulta em uma flacidez acentuada3.

O abdome é um dos locais mais afetados pela perda de peso pós-bariátrica e pode causar incômodos aos pacientes, como dificuldades de higiene pessoal, de interação social ou até prejuízos na vida íntima, diminuição da autoestima e distorções no contorno corporal. Estes impactos podem ser corrigidos ou minimizados por meio de cirurgias plásticas que, além da vantagem estética, melhoram significativamente a qualidade de vida dos pacientes4.

Nos últimos anos, a procura pela cirurgia plástica pós-bariátrica cresceu, com destaque para a dermolipectomia abdominal – também conhecida como abdominoplastia. Estudo aponta uma frequência de 76,97% abdominoplastias e 42,46% de mamoplastias em um hospital público do Distrito Federal5. E o tempo médio entre a cirurgia bariátrica e a cirurgia plástica foi de 42 meses.

Tais cirurgias visam à minimização das consequências secundárias à cirurgia bariátrica e demonstram um impacto positivo na qualidade de vida dos pacientes. Tendo em vista a alta prevalência da obesidade e a procura de cirurgia plástica pós-bariatrica, denota-se a importância dessa temática para a área médica e seu impacto no SUS.

OBJETIVO

Portanto, o objetivo do presente estudo é descrever a frequência das cirurgias plásticas pós-bariátricas realizadas pelo SUS no período de 1 de janeiro de 2015 a 21 de outubro de 2020.

MÉTODO

Trata-se de um estudo ecológico de série temporal, observacional e descritivo, como indivíduos que se submeteram a cirurgias pós-bariátricas pelo SUS, no período que compreende 1 de janeiro de 2015 a 21 de outubro de 2020, realizado na cidade de Lauro de Freitas, Bahia, seguindo os princípios de Helsinque. Os dados foram obtidos pelo Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS).

A coleta foi realizada no dia 22/10/2020 através do TABWIN, programa para análise local de base de dados do Sinan Net, que permite a importação de tabulações efetuadas na Internet (geradas pelo aplicativo TABNET, desenvolvido pelo DATASUS e usado na página Informações de Saúde deste site), utilizando os procedimentos dermolipectomia abdominal, braquial e crural pós-cirurgia bariátrica e mamoplastia pós-cirurgia bariátrica, do período de 2015 a 2020, analisado as notificações compulsórias através das variáveis de raça, sexo, tentativa de suicídio, idade detalhada, ocupação, medicamentos e município.

As análises de dados serão apresentadas por tabelas e gráficos organizados com o uso do software Microsoft Excel 2019. Neste estudo foram analisados dados dos 27 estados do território nacional e utilizou-se as seguintes variáveis: sexo, faixa etária, procedimento realizado, grau de instrução. A análise de correlação de Pearson foi realizada por meio do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS inc., Chicago, IL, EUA) versão 14 para Windows. Para as inferências estatísticas, foi adotado um p<0,05.

RESULTADOS

Dentro do período analisado, foram realizados no total 6307 procedimentos pelo SUS. A Figura 1 demonstra um aumento de procedimentos até 2019; em 2015 apresentavase um total de 1088 cirurgias e em 2019 houve um acréscimo 25,09%, totalizando 1361 procedimentos. Houve correlação linear positiva (r 0,894), significativa (p=0,041), quando comparamos os anos de 2015 a 2019 (Figura 1).

Figura 1 - Correlação entre as variáveis número de procedimentos e ano, em pacientes submetidos a dermolipectomia e mamoplastia após cirurgia bariátrica entre os anos de 2015 e 2019.

Na Tabela 1 a raça branca apresentou maior prevalência em todos os anos analisados, seguida pelas raças parda e preta, respectivamente. Todavia, existe um número elevado de pessoas que não souberam informar sobre a sua raça, nesse período em estudo. A dermolipectomia abdominal é o procedimento mais frequente (53,7%), em seguida, a mamoplastia (22,3%).

Tabela 1 - Características dos pacientes submetidos a dermolipectomia e mamoplastia após cirurgia bariátrica entre os anos de 2015 e 2020.
Variáveis Número absoluto (%)
Cor/raça
Branca 3842 (60,9%)
Parda 1637 (21,6%)
Preta 206 (3,2%)
Amarela 54 (0,8%)
Indígena 1 (0,01%)
Sem informação 567 (8,9%)
Total 6307 (100%)
Procedimentos realizados
Dermolipectomia abdominal 3391 (53,7%)
Dermolipectomia braquial 735 (11,6%)
Dermolipectomia crural 771 (12,2%)
Mamoplastia 1410 (22,3%)

Fonte: Sistema de Informações Hospitalares (SIH)/DATASUS

Tabela 1 - Características dos pacientes submetidos a dermolipectomia e mamoplastia após cirurgia bariátrica entre os anos de 2015 e 2020.

A Tabela 2 apresenta a frequência de cirurgias plásticas de acordo com a região entre as faixas etárias estudadas. A Região Sudeste do país apresentou maiores números de cirurgias pós-bariátricas, na população adulta entre 40 e 59 anos, assim como uma maior frequência na população geral nas cirurgias (Figura 2).

Tabela 2 - Número absoluto e porcentagem de procedimentos de acordo a região do Brasil segundo a faixa etária, entre os anos de 2015 e 2019.
Região 10-14 anos 20 -39 anos 40 - 59 anos Acima de 60
Região Norte 1 (20%) 35 (1,5%) 33 (0,9%) 2 (0,4%)
Região Nordeste 1 (20%) 334 (15,1%) 381 (10,6%) 46 (9,0%)
Região Sudeste 3 (60%) 1088 (49,2%) 1851 (51,7%) 300 (58,7%)
Região Sul 0 (0%) 626 (28,3%) 1087 (30,3%) 146 (28,5%)
Região Centro-Oeste 0 (0%) 128 (5,7%) 227 (6,3%) 17 (3,3%)
Total 5 (100%) 2211 (100%) 3579 (100%) 511 (100%)

Fonte: Sistema de Informações Hospitalares (SIH)/DATASUS.

Tabela 2 - Número absoluto e porcentagem de procedimentos de acordo a região do Brasil segundo a faixa etária, entre os anos de 2015 e 2019.

Figura 2 - Número absoluto de procedimentos de acordo com a região do Brasil entre os anos de 2015 e 2019.

Em 2020 foram analisados dados disponíveis pelo TabWin até o dia 22 de outubro. Até o momento da redação desse artigo, não houve atualização desses dados no sistema, sendo um total parcial de 355 procedimentos realizados.

A Figura 3 apresenta a frequência de dermolipectomia abdominal por sexo segundo ano de processamento; 5941 eram mulheres e 366 eram homens. Em todos os anos analisados no presente estudo, ocorre mais execução do procedimento no sexo feminino.

Figura 3 - Frequência por sexo segundo ao ano de processamento em pacientes submetidos a dermolipectomia e mamoplastia após cirurgia bariátrica entre os anos de 2015 e 2020.

DISCUSSÃO

O presente estudo evidenciou um aumento na frequência de cirurgias plásticas após cirurgias bariátricas realizadas pelo Sistema Único de Saúde. Quando avaliadas as cinco regiões do Brasil, é notável uma grande diferença numérica de cirurgias realizadas entre o Sul e Sudeste comparadas às demais regiões. Isso se deve tanto a fatores de tamanho populacional como também por essas regiões serem grandes centros de referência tecnológico, de especialistas das diversas áreas da saúde e hospitalares. Os estados que representam a Região Sudeste e a Região Sul possuem uma maior concentração de médicos especialistas em cirurgias plásticas cadastrados na Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Era um total de 60,4% dos cirurgiões cadastrados na Região Sudeste e 16,8% pela Região Sul no ano de 20146.

Analisando esses dados, percebemos que a raça branca apresenta maior preocupação estética e funcional com relação às outras raças após cirurgia bariátrica. Está hipótese surge a partir da maior frequência de indivíduos da raça branca realizando procedimentos cirúrgicos após a cirurgia bariátrica, corroborando com outros estudos3,7. Com a intervenção cirúrgica, estes indivíduos podem adquirir um maior nível de satisfação e melhora da qualidade de vida, uma vez que a retirada do excedente cutâneo e de pele flácida reduz as repercussões psicossociais que afetavam o estilo de vida desses pacientes5. O presente estudo evidencia que, a cada dez cirurgias plásticas, sete são realizadas em pacientes da cor ou raça branca (70%). Somente 20% em pessoas pardas, 7% em pretas e 3% em amarelas. Menções a indígenas não atingiram 1%.

De acordo com análise realizada da frequência por faixa etária de dermolipectomia, observa-se que há maior frequência do procedimento na população adulta (40-59 anos), seguida por adultos jovens, com faixa etária entre 20 e 39 anos, corroborando com estudo anterior5. Com relação às cirurgias bariátricas, em média, os pacientes têm 41,4 anos, índice de massa corporal 48,6kg/m, 21% são homens, 61% hipertensos, 22% diabéticos e 31% têm apneia do sono3. É um dado de importante correlação com nosso estudo.

Contudo, quando analisamos a frequência da cirurgia plástica pela variável sexo, pode-se perceber uma maior prevalência do sexo feminino, corroborando com a literatura4,7,8. Esse fato, provavelmente, pode ser teorizado devido ao preconceito dos homens para a aceitação de cirurgia plástica, além de a flacidez abdominal ser mais acentuada em algumas mulheres, fazendo-as buscarem essa intervenção, além do padrão de beleza imposto pela sociedade ser mais direcionado para mulheres9.

Em pacientes pós-cirurgia bariátrica, a consequência da grande perda ponderal é a flacidez de pele, que pode estar presente em diversas regiões do corpo, sendo frequente no abdome e nas mamas10,11. O estudo de Fernandez et al.9 demonstrou uma média elevada da circunferência abdominal e da medida da cintura em pacientes obesos (valor de circunferência da cintura acima de 80 centímetros), o que pode gerar um grande acúmulo de pele após a cirurgia bariátrica9. O acúmulo de pele e flacidez nestas regiões pode justificar a maior frequência da dermolipectomia abdominal e da mamoplastia observada no presente estudo.

Desta forma, demonstra-se a importância do presente estudo para descrição do cenário da cirurgia plástica pós-bariátrica no Sistema Único de Saúde. Por tratar-se de um estudo descritivo ecológico, possui limitações quanto à obtenção dos dados e as subnotificações existentes nas fontes de registros de dados. Portanto, incentiva-se a realização de estudos transversais multicêntricos para obtenção de maiores informações sobre o perfil populacional que busca este procedimento, assim como, determinar os impactos para a saúde pública.

CONCLUSÃO

As cirurgias plásticas pós-bariátricas são mais frequentes entre mulheres, brancas, entre a faixa etária de 35 a 44 anos. Como centro da tecnologia e urbanismo no Brasil, o Sudeste consequentemente apresentou os maiores números de cirurgias pós-bariátricas, provavelmente pelo ritmo de vida, a tecnologia, recursos humanos disponíveis e facilidade de acesso ao serviço de saúde nessa região.

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1. União Metropolitana para o Desenvolvimento da Educação e Cultura, Lauro de Freitas, BA, Brasil

Autor correspondente: Amanda Queiroz Lemos União Metropolitana para o Desenvolvimento da Educação e Cultura (UNIME). Av. Luis Tarquínio Pontes, 600, Lauro de Freitas, BA, Brasil. CEP: 42700-000 E-mail: aq.lemos@hotmail.com

Artigo submetido: 28/10/2021.
Artigo aceito: 13/09/2022.

Conflitos de interesse: não há.

 

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