ISSN Online: 2177-1235 | ISSN Print: 1983-5175

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Original Article - Year2024 - Volume39 - Issue 1

http://www.dx.doi.org/10.5935/2177-1235.2023RBCP0814-PT

RESUMO

Introdução: O mercado de procedimento estéticos cresce exponencialmente no Brasil. Tal crescimento tem despertado o interesse de várias categorias profissionais. A decisão de praticar no setor deve considerar as oportunidades de mercado da localidade na qual se pretende atuar. Entretanto, a área carece de análises comparativas documentando prováveis diferenças regionais no país. O objetivo do estudo é descrever as diferenças de mercado em procedimentos estéticos entre os estados e regiões brasileiras. Um índice de potencial consumo de cosmiatria (IPCC) é calculado para tal análise comparativa.
Método: Estudo transversal envolvendo prestadores de procedimentos estéticos não cirúrgicos no Brasil. Buscas no Google®-Google Maps® foram conduzidas usando termoschave e entrevistas telefônicas realizadas para obter informações sobre categorias profissionais, tipo de provedores e serviços oferecidos. Valores preditivos positivos foram obtidos para todas as estratégias de busca e usados para estimar o número total de provedores. O tamanho da população e a renda per capita foram considerados para o cálculo dos IPCCs para os estados brasileiros.
Resultados: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro apresentaram os maiores IPCCs, sendo 524, 210 e 180, respectivamente. Roraima teve um IPCC de 14, o mais baixo do país. A Região Sudeste apresentou, em média, o maior IPCC (242) entre todas as regiões brasileiras.
Conclusão: Considerando o tamanho da população e a renda, a Região Sudeste apresenta as maiores oportunidades de mercado em procedimentos estéticos não cirúrgicos no Brasil. Nossos achados podem ser de interesse para profissionais de saúde e investidores que atuam ou pretendem atuar no setor.

Palavras-chave: Técnicas cosméticas; Cirurgia plástica; Estética; Procedimentos de cirurgia plástica; Centros de embelezamento e estética; Toxinas botulínicas tipo A; Preenchedores dérmicos

ABSTRACT

Introduction: The aesthetic procedure market is growing exponentially in Brazil. This growth has aroused the interest of several professional categories. The decision to practice in the sector must consider the market opportunities in the location in which you intend to operate. However, the area lacks comparative analyses documenting probable regional differences in the country. The objective of the study is to describe market differences in aesthetic procedures between Brazilian states and regions. An index of potential cosmetic consumption (IPCC) is calculated for such a comparative analysis.
Method: Cross-sectional study involving providers of nonsurgical aesthetic procedures in Brazil. Searches on Google Maps® were conducted using key terms, and telephone interviews were conducted to obtain information on professional categories, types of providers, and services offered. Positive predictive values were obtained for all search strategies and used to estimate the total number of providers. Population size and per capita income were considered to calculate the IPCCs for Brazilian states.
Results: São Paulo, Minas Gerais, and Rio de Janeiro presented the highest IPCCs, being 524, 210, and 180, respectively. Roraima had an IPCC of 14, the lowest in the country. The Southeast Region presented, on average, the highest IPCC (242) among all Brazilian regions.
Conclusion: Considering population size and income, the Southeast Region presents the greatest market opportunities for nonsurgical aesthetic procedures in Brazil. Our findings may be of interest to healthcare professionals and investors who work or intend to work in the sector.

Keywords: Cosmetic techniques; Surgery; plastic; Esthetics; Plastic surgery procedures; Beauty and aesthetics centers; Botulinum toxins; type A; Dermal fillers


INTRODUÇÃO

Os procedimentos estéticos cresceram consideravelmente em todo o mundo nos últimos anos. Em 2020, 24.529.875 procedimentos estéticos foram realizados globalmente, o que representa um aumento acumulado de 11,9% em relação aos 21.921.285 procedimentos estimados para 20161. Apesar da pandemia de COVID-19, o número de procedimentos estéticos não cirúrgicos em 2020 aumentou 4,7% quando comparado a 20191. Considerando o número absoluto de procedimentos por países, juntamente com os Estados Unidos, o Brasil ocupa uma posição de liderança1. Quando os tamanhos populacionais são levados em consideração, Brasil e Argentina ocupam as primeiras posições, com 715 e 631 procedimentos por 100.000 pessoas, respectivamente2.

Recentemente, nosso grupo demonstrou a existência de uma “epidemia” de injetores de toxina botulínica no Brasil3. Mais de 139 mil profissionais de saúde praticam no setor no País. Aproximadamente 85% desses profissionais são representados por dentistas, ao passo que apenas 4% são cirurgiões plásticos.

Intervenções estéticas não cirúrgicas são consideradas procedimentos que podem ser realizados em consultórios e clínicas. Tais procedimentos de estética compreendem os injetáveis (toxina botulínica, ácido hialurônico, hidroxiapatita de cálcio, ácido poli-L-lático e outros), os peelings químicos e ablativos, fotorrejuvenescimento, depilação e redução de gordura não cirúrgica.

A indústria da beleza, incluindo o segmento de cosméticos, é um mercado multibilionário com notável projeção de crescimento. Espera-se que o mercado global de procedimentos cosméticos cresça de us$ 46.45 bilhões em 2023 para us$ 63.66 bilhões em 2027. No Brasil, com a popularização dos procedimentos estéticos não cirúrgicos e o crescente número de profissionais praticando no setor, a saturação do mercado torna-se uma preocupação. É digno de nota o crescimento significativo de franquias que fornecem esses serviços no Brasil nos últimos anos5.

Vários fatores podem influenciar as oportunidades no mercado de estética nos estados brasileiros. O número de habitantes e a renda per capita por estado são fatores a serem considerados por profissionais que desejam praticar no setor. Entretanto, existe uma escassez de análises comparando o mercado de estética entre os estados e as regiões brasileiras.

OBJETIVO

Com o intuito de descrever a situação atual dos serviços de estética, assim como o potencial de consumo de tais serviços entre os estados e as regiões no Brasil, realizamos uma pesquisa nacional com profissionais e clínicas da área.

MÉTODO

O presente estudo foi realizado no Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC-UFPE), em Recife-PE, no período de junho a dezembro de 2022. Este é um estudo transversal nacional envolvendo provedores de procedimentos estéticos não cirúrgicos no Brasil. O estudo foi dividido em duas fases: 1) Identificação dos profissionais de estética por meio de pesquisa Google®-Google Maps®; e 2) Entrevistas telefônicas para caracterização das categorias profissionais, tipo de fornecedores (clínicas, franquias ou consultórios exclusivos de profissionais de saúde) e informações sobre serviços prestados. O Instituto Brasileiro de Pesquisa e Consultoria® forneceu assistência operacional para conduzir todas as entrevistas telefônicas. Os entrevistadores eram funcionários independentes que não faziam parte do grupo dos pesquisadores.

Uma estratégia de busca foi estabelecida usando seis palavras-chave: “estética”, “clínica de estética”, “toxina”, “toxina botulínica”, “Botox®” e “harmonização facial”. Todos os termos de busca foram usados em combinação com o nome dos 26 estados brasileiros e o Distrito Federal. Optamos por priorizar os termos relacionados à toxina botulínica por ser o procedimento estético não cirúrgico mais realizado no mundo6. Assim, esperamos capturar a maioria dos provedores realizando todos os procedimentos correlatos.

A triagem inicial, seja por verificação de anúncios ou consulta a sites/redes sociais, permitiu a exclusão de resultados não relacionados às estratégias de busca (por exemplo, pet shops) e dados de contato inválidos. Posteriormente, as ligações telefônicas permitiram confirmar o número real de fornecedores de cosmiatria da lista de estratégias de busca. Para as três primeiras unidades federativas analisadas (São Paulo, Pernambuco e Distrito Federal), nossos principais termos de pesquisa geraram um valor preditivo positivo (VPP) de 48,7% (± 6,1%) para fornecedores de toxina botulínica e um VPP de 42% (± 5,3%) para clínicas que prestam serviços estéticos não cirúrgicos.

Depois de remover duplicatas para as seis combinações de pesquisa, foi observado um VPP final de 16,4% (0,1-33% no intervalo de confiança de 95%) para todos os termos de pesquisa combinados. Assumindo que as pesquisas Google®-Google Maps® sofreriam a mesma interferência de resultados indesejados, o VPP final obtido foi utilizado para estimar o número de serviços cosméticos para todos os outros estados, possibilitando, assim, uma análise comparativa entre eles.

Um questionário foi desenvolvido como guia para os entrevistadores (Quadro 1). Todas as recusas, números de telefone inválidos da Internet e chamadas não concluídas foram documentados. Com base nas entrevistas telefônicas de clínicas de estética, foram determinados o percentual e o número de diferentes categorias profissionais que trabalham nessas clínicas. Em seguida, novas estratégias de busca foram realizadas por cada categoria para todos os estados brasileiros (ou seja, “dentista” e “nome do estado”).

Quadro 1 - Roteiro para entrevistas.
QUESTIONÁRIO DA PESQUISA
1. Vocês oferecem aplicações de toxina botulínica?
2. Quais são as categorias profissionais que fazem as aplicações? Quantos profissionais trabalham na sua clínica ou consultório?
3. Qual a marca de sua toxina botulínica (nome comercial)?
4. Qual o valor da aplicação por unidade de toxina?
5. Qual o horário disponível para aplicação de toxina mais próximo?
6. Quais outros serviços de estética vocês oferecem?
7. Se outros serviços oferecidos, quais são os profissionais que os realizam?
8. Se oferecido, qual o nome do seu preenchedor (nome comercial)?
9. Quais equipamentos sua clínica possui (laser, ultrassonografia etc.)?
Quadro 1 - Roteiro para entrevistas.

Entrevistas por telefone também foram realizadas para obter informações sobre a porcentagem de profissionais que fazem procedimentos estéticos e seus honorários. Foram entrevistadas amostras convenientes correspondentes a aproximadamente 10% dos resultados de pesquisa obtidos para cada estado. Nenhum identificador pessoal dos assistentes ou dos provedores foi registrado durante as entrevistas.

Dados nacionais de sociedades profissionais de dentistas, dermatologistas e cirurgiões plásticos foram usados para estimar o número total de profissionais que prestam procedimentos estéticos não cirúrgicos para todo o país. Portanto, os números totais desses profissionais atuando na área foram estimados com base no número total de clínicas e/ou provedores individuais.

Com o objetivo de comparar as oportunidades de mercado entre os estados brasileiros, um índice de potencial consumo de cosmiatria (IPCC) foi calculado ajustando o número de serviços pela população e rendimento nominal mensal domiciliar per capita por estado brasileiro. Dados referentes à população e à renda foram obtidos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 20217,8.

Os resultados foram apresentados em números absolutos e percentuais. Médias ou medianas com desvios padrão ou intervalos interquartis foram relatados quando apropriado. Os dados da pesquisa foram agregados e extrapolados para todos os estados brasileiros. Os resultados foram baseados em um nível de confiança de 95% com uma margem de erro de ± 3,9%. O teste de análise de variância (ANOVA) de uma via foi realizado para comparar os honorários entre os profissionais e a franquia.

O estudo não precisou ser submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) por ser uma pesquisa de mercado realizada na Internet e por meio de ligações telefônicas a clínicas de estéticas, sem envolver pacientes. O estudo seguiu os princípios de Helsinque. Esta análise secundária faz parte de um protocolo de estudo que foi publicado no Registro Nacional de Protocolos de Pesquisa para Hospitais Universitários Federais do Brasil (Rede Pesquisa, Ebserh, Hospitais Universitários Federais, código do projeto 4312, HC-UFPE).

RESULTADOS

Todas as estratégias de busca resultaram em 25.894 endereços no Google Maps® para os 26 estados brasileiros e o Distrito Federal. Após excluir duplicatas e resultados não relacionados, bem como os números de contato inválidos, 4.221 serviços de estética não cirúrgica foram encontrados durante o período do estudo (Figura 1). Um total de 2.270 entrevistas telefônicas foram realizadas.

Figura 1 - Fluxograma da Pesquisa.

Das 4.221 clínicas de estéticas, 1.152 (27,3%) pertenciam a rede de franquias. Dentistas, biomédicos e dermatologistas representavam 80% da força de trabalho (Tabela 1). Em média, constatou-se que dois profissionais atuam nessas clínicas. Os tipos de serviços oferecidos pelas clínicas de estéticas foram detalhados na Tabela 2.

Tabela 1 - Categorias profissionais trabalhando nas 4.221 clínicas de estética brasileiras.
Categoria Participação Número Estimado
Dentistas 43% 3.630
Biomédicos 24% 2.026
Dermatologistas 13% 1.098
Farmacêuticos 4% 338
Enfermeiras 3% 253
Cirurgiões Plásticos 2% 169
Fisioterapeutas 1% 84
Esteticistas 1% 84
Multiprofissionais 9% 760
Todos 100% 8.442
Tabela 1 - Categorias profissionais trabalhando nas 4.221 clínicas de estética brasileiras.
Tabela 2 - Serviços oferecidos em clínicas de estética no Brasil.
Toxina botulínica 95%
Número médio de profissionais contratados para aplicação de toxina botulínica 2
*Valor médio por unidade de toxina botulínica R$ 17,30
Disponibilidade de horário na clínica dentro de 24h da ligação telefônica 59%
Ácido Hialurônico 90%
Hidroxiapatita de Cálcio/ Ácido Poli-L- Láctico 65%
Fios de Sustentação 25%
Ultrassons Microfocado e Macrofocado 10%
Laser 7%
Estímulo Muscular Eletromagnético 7%
Radiofrequência 6%
Contrações Musculares Supramáximas 2%

* Valor em Reais.

Tabela 2 - Serviços oferecidos em clínicas de estética no Brasil.

A Tabela 3 mostra as porcentagens de dentistas, dermatologistas e cirurgiões plásticos que realizam procedimentos estéticos não cirúrgicos e seus números totais estimados. Apesar de apenas 31% dos dentistas entrevistados afirmarem realizar aplicação de toxina botulínica, o número absoluto desses profissionais é extremamente superior a todas as outras categorias juntas.

Tabela 3 - Número estimado de dentistas, dermatologistas e cirurgiões plásticos atuando no mercado de cosmiatria brasileiro.
Categoria Número total de profissionais no Brasil Percentagem atuando no
mercado
Número estimado atuando no mercado
Dentistas 376.067 31% 116.957
Dermatologistas 9.685 87% 8.678
Cirurgiões Plásticos 7.079 76% 5.359
Tabela 3 - Número estimado de dentistas, dermatologistas e cirurgiões plásticos atuando no mercado de cosmiatria brasileiro.

Os cirurgiões plásticos e dermatologistas detinham as maiores taxas de injeção de toxina botulínica em comparação a dentistas e franquias. Como previamente reportado, os honorários das franquias eram aproximadamente 27% menores do que os dos cirurgiões plásticos.

Ao combinar o número de profissionais que trabalham em clínicas e consultórios individuais, foi estimado e publicado recentemente por nosso grupo um total de 139.436 prestadores de procedimentos estéticos não cirúrgicos no Brasil. A odontologia foi de longe a categoria profissional mais comum, representando aproximadamente 87% dos fornecedores de procedimentos estéticos3.

As taxas de profissionais atuando no setor por 100.000 habitantes estão disponíveis na Tabela 4. São Paulo possui o menor número de profissionais por população, enquanto Roraima apresenta a maior taxa. O ranking dos estados brasileiros de acordo com o IPCC também é apresentado na Tabela 4. São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro apresentam os maiores IPCCs do Brasil. Acre, Amapá e Roraima detêm os menores índices entre os estados brasileiros. A Figura 2 demonstra o IPCC por região do País. O IPCC do Sudeste é nitidamente superior aos índices das demais regiões brasileiras.

Tabela 4 - Serviços de cosmiatria por habitantes e índice de potencial consumo de cosmiatria por estado brasileiro.
ESTADO SERVIÇO/100.000 HABITANTES IPCC
São Paulo 3 524
Minas Gerais 6 210
Rio de Janeiro 10 180
Rio Grande do Sul 12 143
Paraná 11 140
Bahia 7 117
Pará 8 103
Santa Catarina 17 99
Amazonas 8 94
Goiás 16 81
Mato Grosso do Sul 20 73
Ceará 13 70
Pernambuco 12 69
Distrito Federal 39 65
Mato Grosso 21 65
Espírito Santo 24 54
Maranhão 12 53
Paraíba 19 45
Rio Grande do Norte 32 35
Piauí 24 35
Alagoas 24 32
Tocantins 34 30
Sergipe 35 26
Rondônia 47 22
Acre 47 19
Amapá 54 16
Roraima 73 14
Tabela 4 - Serviços de cosmiatria por habitantes e índice de potencial consumo de cosmiatria por estado brasileiro.

Figura 2 - Índice de Potencial Consumo de Cosmiatria.

DISCUSSÃO

Nosso estudo forneceu estimativas abrangentes sobre o número total de fornecedores de procedimentos cosméticos não cirúrgicos e sua participação na prestação de tais serviços no Brasil. A partir dessas estimativas, ajustando para população e renda domiciliar per capita por estado, criamos o IPCC, um índice de potencial consumo de cosmiatria, possibilitando uma análise comparativa acerca das oportunidades do mercado de procedimentos estéticos não cirúrgicos no Brasil. Não temos conhecimento de estudos semelhantes sobre estimativas específicas do setor.

A Região Sudeste, particularmente os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, destacou-se pelos altos IPCCs. Tal achado sugere que as oportunidades de mercado nessa região seriam maiores do que em outras regiões do Brasil. Apesar desses três estados possuírem os maiores números absolutos de serviços de estética, as suas vastas populações e maiores rendas per capitas torna-os lugares mais favoráveis para prática de profissionais do ramo. Esta informação pode ser particularmente valiosa para novos profissionais da área quando da decisão de iniciar suas atividades em determinadas regiões do Brasil.

Recentemente, nosso grupo demonstrou a existência de uma “epidemia” de injetores de toxina botulínica no Brasil3. Foram projetados mais de 139.000 injetores, o que representa aproximadamente 0,7 profissionais para cada 1.000 brasileiros. Além disso, embora a maioria dos dermatologistas e cirurgiões plásticos realizasse procedimentos estéticos não cirúrgicos, a grande maioria (87%) dos profissionais atuantes na área eram dentistas.

O rápido crescimento do setor e a atuação de profissionais não médicos foi motivo de debate em nossa publicação prévia e de outros estudos9,10. Ultimamente, casos de complicações associadas a procedimentos de estética realizados por dentistas foram documentados no Brasil11,12. Nos Estados Unidos, como poderia ser esperado, um estudo sobre a prática de depilação a laser por não médicos demonstrou um aumento no número de processos judiciais13.

Evidenciamos que a maioria das clínicas oferecem injetáveis como a toxina botulínica e o ácido hialurônico. Entretanto, uma pequena proporção detém tecnologias mais avançadas para procedimentos de cosmiatria. Tais tecnologias requerem maior expertise e maiores custos.

Aproximadamente 60% das clínicas tinham disponibilidade de horário dentro de 24 horas seguindo a entrevista telefônica. Este dado permite avaliar a relação ofertademanda de tais procedimentos estéticos. Apesar de uma alta demanda, o aumento significativo de clínicas de estética nos últimos anos, particularmente vinculadas a franquias, facilitou o rápido acesso aos procedimentos cosméticos não cirúrgicos.

Por fim, evidenciamos anteriormente que os valores de procedimentos estéticos são menores em clínicas de franquias, o que, presumidamente, explica a popularização de tais procedimentos entre segmentos da sociedade com menores rendas domiciliares. Entretanto, um estudo americano apontou maior preferência do público, quando da realização de procedimentos estéticos, por médicos14.

Nosso estudo tem várias limitações. Primeiro, a pesquisa na Internet foi usada para identificar fornecedores de procedimentos estéticos não cirúrgicos. No entanto, nem todos os fornecedores, no momento da pesquisa, poderiam ter anúncio online ativo, o que é que capaz de subestimar o número de clínicas de estética detectadas. Além disso, embora tenhamos selecionado as categorias de profissionais mais prováveis que realizam procedimentos cosméticos, outros provedores podem ter sido perdidos. Finalmente, a utilização de renda domiciliar per capita para avaliar as oportunidades de mercado pode não necessariamente estar relacionada ao desejo e ao potencial em consumir tais serviços.

CONCLUSÃO

Quando a população e a renda domiciliar per capita são consideradas, diferenças significantes são documentadas entre estados brasileiros quanto ao potencial de consumo de serviços de estética no Brasil. Baseado no Índice de Potencial Consumo de Cosmiatria, a Região Sudeste apresenta as melhores oportunidades de mercado no setor de procedimentos estéticos não cirúrgicos entre as regiões brasileiras.

A existência de uma “epidemia” de fornecedores de procedimentos estéticos não cirúrgicos no Brasil é uma realidade. Atualmente, o mercado é dominado por não médicos, principalmente por dentistas.

REFERÊNCIAS

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1. Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Pernambuco, Serviço de Cirurgia Plástica, Departamento de Cirurgia, Recife, PE, Brasil
2. UNINASSAU, Recife, PE, Brasil

Autor correspondente: Bartolomeu Antonio Nascimento Junior Hospital das Clínicas - UFPE, Avenida Prof. Moraes Rego, S/N, Cidade universitária, Recife, Pernambuco, Brazil, CEP: 50670-901, E-mail: barto.nascimentojr@outlook.com

Artigo submetido: 29/04/2023.
Artigo aceito: 20/08/2023.

Conflitos de interesse: não há.



 

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