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Articles - Year2001 - Volume16 - Issue 1

RESUMO

Os autores apresentam sua experiência com o uso do retalho rombóide de Limberg nas reparações mamárias imediatas pós-quadrantectomia e dissecção axilar. Relatam a utilização em 200 casos operados no período de junho de 97 a junho de 2000, descrevendo a metodologia da técnica utilizada, melhores quadrantes para indicação, resultados e complicações.

Palavras-chave: Retalho rombóide; quadrantectomia; dissecção axilar; câncer de mama

ABSTRACT

The authors describe their experience in immediate breast reconstruction using the Limberg rhomboid flap post-quadrantectomy and axillary dissection. They report the technique in 200 cases, operated from June 97 to June 2000, describing the methodology used, indication of the best quadrants, results and complications.

Keywords: Rhomboid flap; quadrantectomy; axillary dissection; breast cancer


INTRODUÇÃO

A cirurgia plástica tornou-se parte integrante e fundamental no tratamento do câncer de mama. Oferecer à paciente a possibilidade de reconstrução ou reparação mamária através de uma abordagem multidisciplinar criteriosa possibilita melhor qualidade de vida (5).

A quadrantectomia, entendida como a ressecção de um quadrante mamário, seguida da dissecção axilar e radioterapia pós-operatória, vem demonstrando resultados semelhantes, em termos de prognóstico, às mastectomias. Tem como objetivo principal o máximo controle local, com a mínima mutilação. Foi amplamente divulgada por Veronesi na década de 80 e tem, em muitos casos, indicação precisa(7).

É freqüente a observação de três tipos de deformidades mamárias secundárias às quadrantectomias, classificadas por Berrino como dos tipos I a III, a saber, desvio ou distorção do complexo aréolo-papilar, deficiência tecidual (glândula e/ou pele) e retração mamária, respectivamente(1). Existem diversas técnicas preconizadas para as reparações, imediatas ou tardias, que variam desde a sutura primária até a utilização de retalhos cutâneos, glandulares ou miocutâneos(2, 3, 4, 6).

Com este trabalho, os autores apresentam sua experiência com a reparação mamária imediata através da utilização de retalho cutâneo rombóide, a comparação deste com outros métodos anteriormente utilizados e a extensão das correções obtidas.


CASUÍSTICA E MÉTODOS

Duzentas pacientes com idade média de 52 anos foram submetidas à reparação imediata de mama pós-quadrantectomia e dissecção axilar, no período de junho de 97 a junho de 2000. O retalho utilizado foi o rombóide, cutâneo-glandular ou cutâneo-gorduroso projetado aos moldes do retalho de Limberg.

Na metodologia do procedimento cirúrgico, identifica- se a projeção do tumor na pele, seguida da marcação, em losango, perilesional, com margens determinadas pelo mastologista. Em seguida, marca-se o retalho rombóide a ser utilizado (Fig. 1). Incisa-se a pele e o subcutâneo até o plano muscular, cujo descolamento é feito até permitir completa rotação (Fig. 2). Procede-se à síntese fixando-se a base do retalho com o subcutâneo da margem superior da área a ser reparada para melhor sustentação do retalho e sutura da pele (Fig. 3).


Fig. 1 - Delimitação da projeção do tumor na pele, marcação perilesional em losango e do retalho rombóide, com pedículo voltado para a mama.



Fig. 2 - Tumor ressecado e área resultante pós-quadrantectomia.



Fig. 3 - Retalho posicionado e suturado.



Os tumores ressecados localizavam-se nos seguintes quadrantes: superior externo (45%), inferior externo (25%), superior interno (15%) e inferior interno (15%). O esvaziamento axilar era realizado com incisão única nos tumores dos quadrantes externos e com incisão combinada nos tumores dos quadrantes internos.

A drenagem era realizada em todos os casos com dreno de aspiração contínua, deixada por um período médio de 8 dias.

As pacientes iniciavam a radioterapia geralmente na terceira semana pós-operatória.


RESULTADOS

O retalho rombóide permite a manutenção do contorno mamário em praticamente todos os casos, atenuando ou mesmo evitando as deformidades secundárias (Fig. 4).


Fig. 4 - Resultado tardio, com simetria aceitável.



A avaliação subjetiva feita pela paciente, quanto ao aspecto estético, é sempre positiva.

É comum a observação de redundância tecidual à altura da linha axilar anterior por duas razões: pela liberação do músculo grande dorsal da parede torácica, no per-operatório, e por edema Linfático tardio ocasionado pelo esvaziamento axilar. Tal alteração pode ser atenuada com um dos segmentos do retalho rombóide (Fig. 5).


Fig. 5 - Correção da redundância de pele à altura da linha axilar anterior pela rotação de um dos segmentos do retalho.



A cicatriz, apesar de extensa, é de boa qualidade a longo prazo, possivelmente em decorrência da radioterapia pós-operatória (Figs. 6 e 7).


Fig. 6 - Aspecto cicatricial pós-radioterapia.



Fig. 7 - Detalhe da cicatriz.



Não há distorção do sulco mamário nos quadrantes externos, porém, em relação ao quadrante inferior interno, observa-se discreta constrição do sulco que pode ser corrigida tardiamente, sem dificuldades técnicas.

A opção pelo balanceamento contralateral em segundo tempo é uma preferência do autor, uma vez que é bastante variável o grau de redução mamária pós-radioterapia.


CONCLUSÃO

A cirurgia conservadora tem sido cada vez mais empregada e as técnicas utilizadas visam o resultado estético (2,3,4,5,6).

O autor passou por diversas experiências com utilização de procedimentos como sutura primária, plástica em Z, retalhos glandulares e retalho muscular e/ou miocutâneo de grande dorsal, conforme preconizado por Slavin(1,6).

O retalho rombóide mostrou-se bastante versátil pela facilidade de confecção, pelos resultados evidenciados precoce e tardiamente e pela manutenção do contorno mamário. Tem sido a opção para as reparações imediatas.


BIBLIOGRAFIA

1. SACCHINI V, NAVAM, TANA S, et al. Quantitative and qualitative cosmetic evaluation after conservative treatment for breast Cancer. Eur. J. Cancer. 1991; 27: 1395-400.

2. VERONESI U, SACCOZZI R, DELVECCHIO M, et al. Comparing radical mastectomy with quadrantectomy, axillary dissection and radiotherapy in patients with small cancer of breast. N. Engl.J. Med. 1981; 305: 6-11.

3. BERRINO P, CAMPORA E, SANTI P. Postquadrantectomy breast deformities: classification and techniques of surgical correction. Plast.Reconstr. Surg. 1987; 79: 567-80.

4. COOPERMAN AM, DINNER M. The rhomboid flap and partial mastectomy. Surg. Clin. North Am. 1978; 58: 869-71.

5. GRISOTTI A, VERONESI U. Reconstruction of the radiated partial mastectomy defect with autogenous
tissues (Discussion). Plast. Reconstr Surg.1992; 90: 866-76.

6. PEARL RM, WISNICKI J. Breast reconstruction following lumpectomy and irradiation. Plast. Reconstr. Surg. 1985; 76: 83-98.

7. SLAVIN SA, LOVE SM, PADOUSKY NL. Reconstruction of the radiated partial mastectomy defect with autogenous tissues. Plast. Reconstn Surg.1992; 90: 854-73.






I - Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Professor de Anatomia do curso de Medicina / Universidade de Uberaba.
II - Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, responsável pelo Serviço de Cirurgia Plástica da FMTM.
III - Membro da Sociedade Brasileira de Mastologia.
IV - Membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Professor Adjunto de Cirurgia Plástica da FMTM.

Trabalho Realizado na Associação de Combate ao Câncer do Brasil Central - Hospital Hélio Angotti

Endereço para correspondência:
Manoel Pereira da Silva Neto
R. Governador Valadares, 619 - Centro
Uberaba - MG 38010-380
Fone: (34) 312-0692 - Fax: (34) 312-9687

 

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