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Ideas and Innovation - Year2011 - Volume26 - Issue 3

RESUMO

Os autores apresentam um checklist para ser utilizado na última etapa da consulta pré-operatória de cirurgias plásticas estéticas, composto de 29 perguntas, com respostas do tipo sim e não, quatro espaços para inserção de dados e uma questão para classificação do nível de risco em trombose venosa profunda. Os quesitos são divididos em três tabelas relativas a três áreas: anestesia, aspectos psicológicos e riscos clínicos. As respostas são enquadradas em quatro cores, que identificam o nível de risco e sugerem o grau de atenção. Uma quarta tabela agregada contém fontes de referência de fácil acesso durante a consulta médica, pela Internet ou por aparelhos portáteis que contenham programas de dados que forneçam informações sobre medicações ou afecções. A finalidade do checklist é diminuir a possibilidade de ocorrências indesejáveis que envolvam o processo cirúrgico, pela identificação do nível de risco de cada item revisto.

Palavras-chave: Lista de checagem. Cirurgia plástica. Cuidados pré-operatórios. Complicações intra-operatórias/prevenção & controle. Complicações pós-operatórias/prevenção & controle.

ABSTRACT

The authors present a checklist to be used at the last stage of a preoperative visit for esthetic plastic surgery composed of 29 yes/no questions, four blank spaces for entering data, and one question for ranking the level of risk of deep vein thrombosis. The criteria are divided into three tables relating to three areas: anesthesia, psychological aspects, and clinical risk factors. The answers are framed in four colors that identify the level of risk and suggest the degree of attention warranted. A fourth aggregate table contains reference sources which can be easily accessed during a medical visit via the Internet or a portable device equipped with a medical database software. The purpose of the checklist is to reduce the possibility of adverse events involving the surgical process by identifying the risk level of each item reviewed.

Keywords: Checklist. Plastic surgery. Preoperative care. Intraoperative complications/prevention & control. Postoperative complications/prevention & control.


INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, acumulou-se uma quantidade imensa de conhecimento na área médica, o que foi facilitado pelos avanços tecnológicos e científicos e, sobretudo, pelos meios de comunicação. O treinamento dos médicos tem sido cada vez mais longo e intenso. Na cirurgia plástica estética, a proliferação de eventos científicos e o consequente intercâmbio de conhecimento levaram à maior especialização dos médicos e ao avanço das técnicas operatórias. A popularização dos procedimentos cirúrgicos estéticos e o maior acesso dos pacientes à cirurgia plástica resultaram no aumento do número de operações realizadas. Embora tenham sido criados profissionais de extraordinária capacidade, ocorrências não desejáveis continuam ocorrendo de forma persistente, algumas delas frustrantes e desmoralizantes.

Há, portanto, a necessidade de serem criadas estratégias para identificar as falhas que poderiam levar a complicações consideradas evitáveis. Em 2009, a Organização Mundial da Saúde (OMS) elaborou um estudo com a aplicação de um checklist cirúrgico no período intraoperatório, baseado numa lista simples de checagem nas diferentes etapas de uma cirurgia, que diminuiu significativamente o índice de complicações1.

Neste artigo é relatada a criação de um checklist pré-operatório para aplicação em cirurgias plásticas de finalidade estética.


MÉTODO

Este checklist é composto de 29 perguntas, com respostas do tipo sim e não, uma pergunta sobre a classificação do risco de trombose venosa profunda, e quatro espaços para serem preenchidos com informações específicas. O checklist está dividido em três áreas: anestesia, aspectos psicológicos e riscos clínicos (Quadros 1 a 3). Há também uma lista de fontes de informação de consulta rápida e facilmente acessíveis ao médico pela Internet ou por aparelhos eletrônicos portáteis, como Iphone® e Ipad® (Quadro 4).










As respostas são enquadradas por cores, que identificam níveis de atenção correspondentes aos níveis de risco cirúrgico, com a seguinte definição: verde, risco irrelevante; azul, baixo risco; amarelo, médio risco; e vermelho, alto risco (Quadro 5). Esses parâmetros foram baseados em relatos científicos publicados, que compreendem a identificação de riscos e de complicações. Esse checklist deve ser aplicado como última etapa da consulta final pré-operatória.




DISCUSSÃO

A utilização de um checklist tem se tornado cada vez mais frequente nas diferentes áreas de atuação, como construção civil, gastronomia, aviação e até mesmo na área financeira. Em especial na aviação, demonstrou ser de extrema importância e tornou-se parte fundamental e obrigatória para início de qualquer voo2. A experiência com o emprego de listas de checagem na Medicina é recente, e tem como único exemplo de grande repercussão o checklist cirúrgico em fase pré-operatória. Essa simples lista de perguntas, como identificar o lado do corpo em que será efetuada a intervenção cirúrgica, provocou significativa queda do índice de erros1,2.

Este artigo tem por finalidade apresentar um checklist como um processo de reavaliação final de todas as etapas consideradas de rotina no atendimento de um paciente cirúrgico, em que o médico responde às questões e preenche os dados ao fim da última consulta. O objetivo é identificar possíveis omissões e reforçar a necessidade de serem executas medidas previamente consideradas. Os itens foram criados com base nos relatos de eventos adversos e nas experiências clínica e anestésica acumuladas.

Em relação ao procedimento anestésico, é mais seguro que o cirurgião avalie e classifique o risco segundo o critério da American Society for Anesthesiology (ASA), já durante o processo de consulta. Essa é apenas uma forma de triagem, já que a avaliação final do risco anestésico será realizada pelo anestesista. Podem surgir situações em que a classificação não seja ASA 1 ou de dúvidas sobre medicações ou alergias, em que essa avaliação prévia pode assegurar maior interação com o anestesista, por meio de consulta verbal ou presencial do paciente no período disponível antes da cirurgia.

A classificação ASA limita-se apenas ao conteúdo da coluna "Condição pré-operatória", no Quadro 1. Para ilustrar e facilitar a classificação, foi inserida a coluna "Comentários" para cada nível, com base no relato da Cleveland Clinic (Cleveland, OH, Estados Unidos), com o acréscimo de um item na categoria ASA 2, que é o tratamento ativo psiquiátrico com drogas psicofarmacológicas. A alteração psiquiátrica é considerada uma doença ativa3,4.

As perguntas contidas na seção relativa aos aspectos psicológicos baseiam-se em artigos publicados. Em 1998, Sarwer et al.5, analisando de modo prospectivo 100 pacientes submetidos a cirurgia estética, detectaram dismorfofobia corporal em 7% desses indivíduos, índice significativamente maior que o de 2% detectado por Andreasen e Bardach6 em população similar. Hodgkinson7, em 2005, afirmou que pacientes com cirurgias plásticas prévias e especialmente descontentes com o resultado podem ser portadores de dismorfofobia corporal. A presença de acompanhante em consulta foi considerada necessária, já que o paciente frequentemente não retém as informações e explicações fornecidas pelo médico8.

O estágio atual de técnicas anestésicas e de avaliação clínica permite a realização de cirurgias com relativa segurança, e a tendência é de que pacientes classificados como ASA 2 possam ser submetidos a cirurgias consideradas de finalidade estética. Portanto, o Quadro 3, que inclui fatores de risco clínico, pode ser de utilidade para a revisão final desses pacientes. A classificação de risco de trombose venosa profunda foi baseada no trabalho de Anger et al.9, publicado em 2003.

O grande volume de conhecimento científico sempre auxiliou o médico, mas também pode colocá-lo em situações difíceis, pois é impossível conhecer tudo e estar atualizado em tudo na prática médica. Novas medicações e novos tratamentos surgem diariamente. A lista de fontes de informação, apresentada no Quadro 4, tem como finalidade permitir uma consulta rápida no período de atendimento do paciente. Essa lista contém portais de Internet e programas como o Epocrates®, de consulta livre, que permitem rápida busca de informações durante a consulta médica. Isso permite identificar e controlar eventuais riscos decorrentes de medicação utilizada pelo paciente, como psicofármacos. Com o uso cada vez mais frequente de drogas psicofarmacológicas que podem alterar o ato anestésico ou até aumentar o risco de trombose venosa profunda, é importante que o médico tenha informações atualizadas sobre esses medicamentos.

A classificação das respostas por cores, relacionando-as com níveis de risco, tem como objetivo chamar a atenção do cirurgião na avaliação final individual de cada paciente. A classificação do risco foi baseada em dados da literatura. Não foi proposta a quantificação das cores resultantes para mensurar um risco para cada paciente.

Como foi bem demonstrado na aviação, a disciplina e a organização no seguimento rígido de um checklist aumentaram os níveis de segurança em voo2. Obviamente, acidentes que venham a ocorrer, a introdução de novas tecnologias e a evolução das que já estão sendo utilizadas tornam necessária a reformulação constante do checklist da aviação. Essa mesma flexibilidade deve ser seguida no checklist pré-operatório. Sua utilização em séries extensas de pacientes deve possibilitar a quantificação e a qualificação das falhas evitáveis.


REFERÊNCIAS

1. Haynes AB, Weiser TG, Berry WR, Lipsitz SR, Breizat AH, Dellinger EP, et al.; Safe Surgery Saves Lives Study Group. A surgical safety checklist to reduce morbidity and mortality in a global population. N Engl J Med. 2009;360(5):491-9.

2. Gawande A. The checklist manifesto: how to get things right. New York: Metropolitan Books; 2009.

3. American Society of Anesthesiologists. ASA Physical Status Classification System. Disponível em: http://www.asahq.org/For-Members/Clinical-Information/ASA-Physical-Status-Classification-System.aspx. Acesso em: 11/1/2011.

4. Cleveland Clinic. ASA Physical Classification System. Disponível em: http://my.clevelandclinic.org/services/anesthesia/hic_asa_physical_classification_system.aspx. Acesso em: 11/1/2011.

5. Sarwer DB, Wadden TA, Pertschuk MJ, Whitaker LA. Body image dissatisfaction and body dysmorphic disorder in 100 cosmetic surgery patients. Plast Reconstr Surg. 1998;101(6):1644-9.

6. Andreasen NC, Bardach J. Dysmorphophobia: symptom or disease? Am J Psychiatry. 1977;134(6):673-6.

7. Hodgkinson DJ. Identifying the body-dysmorphic patient in aesthetic surgery. Aesthetic Plast Surg. 2005;29(6):503-9.

8. Godwin Y. Do they listen? A review of information retained by patients following consent for reduction mammoplasty. Br J Plast Surg. 2000;53(2):121-5.

9. Anger J, Baruzzi ACA, Knobel E. Um protocolo de prevenção de trombose venosa profunda em cirurgia plástica. Rev Soc Bras Cir Plást. 2003;18(1):47-54.










1. Cirurgião plástico do Hospital Israelita Albert Einstein e do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil.
2. Cirurgião plástico do Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil.
3. Cardiologista do Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil.
4. Anestesista do Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil.

Correspondência para:
Jaime Anger
Av. Brigadeiro Luiz Antonio, 3.889 - Jardim Paulista
São Paulo, SP, Brasil - CEP 01401-001
E-mail: anger@uol.com.br

Artigo submetido pelo SGP (Sistema de Gestão de Publicações) da RBCP.
Artigo recebido: 13/1/2011
Artigo aceito: 21/2/2011

Trabalho realizado no Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil.

 

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